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Publicado: Segunda-feira, 16 de novembro de 2009

O sentido da vida

O sentido da vida
Um século carente de sentido à vida

Confesso-me fascinada pelos best sellers. Toda vez que um livro aponta em primeiro lugar na lista dos mais vendidos, minha curiosidade me conduz à livraria mais próxima. Antigamente, controlava esse ímpeto pelo termômetro da crítica, mas esse tempo já passou e como a maturidade me permitiu autenticidade, já não me importo mais com as opiniões alheias. Tenho deixado o prazer falar mais alto e com isso entendido que os críticos sabem a linguagem da razão, mas não a do coração. 

O meu interesse pelos sucessos é entender a mensagem que revela a carência coletiva: por trás de todo interesse há uma necessidade. Explicando melhor, quero dizer que as fases históricas da humanidade foram construídas a partir das necessidades do seu tempo. O Renascimento desejava a valorização do homem e da ciência. O Iluminismo, a valorização da razão e da igualdade de todos perante a lei. 

Terminei de ler o livro A Cabana, um best seller polêmico e sedutor. A história do pai que teve a filha de 6 anos morta por um assassino serial e que recebeu a explicação de Deus sobre o acontecimento, muito me incomodou. Em alguns momentos travei uma verdadeira guerra com o autor; pensei em desistir do livro. Foi difícil aceitar (na verdade, ainda não aceitei) o argumento da obra: convencer o leitor que a criação é perfeita e que Deus é bom, apesar das dores da humanidade. 

Mas o objeto desta reflexão não é o meu convencimento, menos ainda minha crença religiosa. A fé é subjetiva e assim deve ser para que possamos respeitar uns aos outros.  O ponto central da questão é entender o porquê do sucesso do livro. Aliás, já faz um bom tempo que os livros com potencial de consolo espiritual vêm colecionando sucesso. Hoje mesmo ganhei de presente mais um best seller nessa linha.  Parece que o leitor atual já não se contenta mais com a distração literária. Ele tem buscado nas letras, ainda que em forma de auto-ajuda, a inspiração da vida. 

Graças à teoria de Maslow, eu entendo essa necessidade como parte dos estágios motivacionais da vida humana: primeiro, as questões básicas, como segurança, proteção e bens materiais e depois, as secundárias, como o sentido da vida e a auto-realização. Abraham Maslow, conceituado psicólogo americano e famoso pela criação da Hierarquia de Necessidades, apresentou esses estágios em forma de pirâmide e colocou as necessidades fisiológicas e as de segurança na sustentação. Ou seja, para que possamos atingir a auto-realização no topo da pirâmide, antes devemos solidificar as necessidades primárias. 

Se Maslow estiver certo, a busca pelos livros com poder de aconselhamento espiritual, independente da fé, da religião e da existência de um Deus, mostra que a sociedade do século XXI está carente de respostas que justifiquem a vida. Talvez porque tenha percebido que a realização pessoal está bem longe das conquistas materiais e dos avanços tecnológicos. E que as respostas pelo sentido da vida podem ser encontradas.

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