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Publicado: Quarta-feira, 30 de agosto de 2017

O Recomeço

Crédito: APCRC O Recomeço

Quem nunca errou. Quem nunca amou ou chorou. Quem nunca amaldiçoou os dias tão cinzentos que pairavam como uma carga densa de tristeza e solidão. Quem nunca achou que não daria certo ou que os esforços não resultariam em nada útil. A vida nos consome com seus ciclos e lutos e mudanças de direção. Os “recomeços” se configuram desse modo como movimentos necessários.

 

O reconhecimento da culpa, do erro, da falha, da pisada de bola, nos posiciona diante da realidade e nos impulsiona a agir em prol de algo que transforme aquilo que não deu certo ou que não está mais suficiente. É prudente olhar para nossas ações no mundo e parar, nem que por um momento, deixando o fluxo da existência tocar nosso senso de sobrevivência e discernimento.

 

Não há como viver saudável na negação da mágoa ou mudança que causamos na vida do outro. E novamente indago “qual nosso papel na felicidade desse outro?”, qual nossa responsabilidade na reconstrução dos sentidos que deixamos esmorecer pelo medo de que a frustração seja maior que o gozo da conexão?

 

A vida é composta por um emaranhado de problemas que vamos digerindo e sugando e processando (ou não) ao longo de uma existência experimental. Ninguém tem experiência de vida, visto que ela é uma só, única. Ninguém nunca viveu a mesma vida várias vezes, mas repetimos talvez alguns mesmos padrões ao longo de uma mesma vida. Todo o sentimento, toda ação, todos os encontros, os desejos e sonhos, tudo que fomos, somos e seremos, são vivenciados pela primeira vez. Aqui e agora.

 

E mais uma vez, o recomeçar se apodera de uma combustão motivadora das escolhas difíceis. Tantos são os ciclos que iniciamos e tantas são as pendências que vamos arrastando junto ao corpo calejado, marcado, ferido, amado, suado.

 

O fechamento de um ciclo acontece quando em momentos de auto reflexão reconhecemos a nossa cumplicidade no desenrolar de nossas vidas. As escolhas não são solitárias, assim como a culpa também não é a característica de uma única pessoa, sendo assim, cabe-nos olhar, sentir, refletir, reconhecer e seguir. A situação exposta está além do simples reconhecer-se como um humano errante e tudo bem. A questão aqui é a de se posicionar diante da vida e a tomar para si como sujeitos de nossas próprias histórias.

 

A vida não pára quando estamos em sofrimento ou analisando nossas escolhas, porém nosso corpo e sentidos funcionam em câmera lenta, pois é justamente nesses momentos intensos de mudanças que lançamos um olhar aguçado para o que de fato importa, para o que nos faz levantar de manhã e sentir a potência da existência pulsando em nossos corpos.

 

Olhar, sentir, refletir, reconhecer e seguir. A própria dinâmica da vida vai nos apresentando inúmeras oportunidades para construir relações plenas e de fato significativas, faz-se necessário agarrá-las. O que importa a dor possível, a frustração possível, as possíveis perdas, diante da sensação inexplicável de estar compartilhando a existência com um outro semelhante, numa simbiose lancinante e vital.

 

Chore, viva, grite, ame, perca, caia, intencione, tenha medos, mas levante e como num rompante se permita novamente sonhar, deixe “o recomeçar” te lançar num horizonte ilimitado de causas felizes. 

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