Colunistas

Publicado: Sexta-feira, 12 de agosto de 2005

O percurso de uma instituição: 80 anos do Museu Republicano

Washington Luís, presidente do
Estado de São Paulo, discursando na inauguração do Museu Republicano,
18 de abril de 1923.
Fotógrafo: Frederico Egner.

Na década de 1920, o Partido Republicano Paulista - PRP (São Paulo - Brasil) procurava implementar um ambicioso plano, visando a reconquista de sua abalada hegemonia nacional. Além de recorrer aos instrumentos tradicionais de luta pela supremacia, valia-se agora de novas armas, dentre elas a busca de raízes, sempre útil às instrumentalizações necessárias.

Ao descobrir a importância de uma memória que pudesse legitimar suas pretensões, as elites republicanas não pouparam esforços na tarefa de construí-la.

Para tanto, era preciso também preservar, ou construir, a memória da trajetória do PRP e de seu papel no estabelecimento da República no Brasil. Era preciso demonstrar que a fundação do PRP estava baseada na coesão de todos os republicanos e na autonomia e independência dos paulistas, frente aos políticos da Corte Imperial.

Deste movimento nasceu o Museu Republicano "Convenção de Itu", extensão do Museu Paulista da Universidade de São Paulo, um dos nossos mais antigos museus de história e o primeiro dedicado ao movimento republicano no país. A idéia de sua criação tomou corpo ao longo da década de 1880, momento em que o Partido Republicano Paulista estava se consolidando e participando do processo político - eleitoral, para ser concretizada em 1923.

Benjamim Constant Botelho de Magalhães (1837-1891), denominado o Fundador da República, título conferido pela Assembléia Nacional Constituinte em 1891, quase foi homenageado com um museu no início do novo regime. Na ocasião, Demétrio Ribeiro, um deputado de convicções positivistas, propôs que após a morte da viúva de Benjamin Constant a sua casa fosse transformada em museu dedicado à vida e feitos do "ínclito cidadão", oficial do Exército, professor de matemática, divulgador da filosofia positivista e organizador do movimento militar que depôs da Monarquia e membro do Governo Provisório Republicano.

Quintino Bocaiúva, por sua vez, propôs outra homenagem: a que determinava ao Governo Federal a compra da casa no bairro de Santa Teresa, Rio de Janeiro, para nela colocar uma lápide em homenagem à memória do grande patriota - o Fundador da República. Os esforços oficiais para a transformação da casa em museu foram retomados somente quando da morte da filha solteira de Benjamin Constant, em 1958. Atualmente, o Museu "Casa de Benjamin Constant" é um dos museus dedicados à República na cidade do Rio de Janeiro.

Nessa altura, o Museu Republicano de Itu já comemorava seus 25 anos de existência. Inaugurado a 18 de abril de 1923, o museu era a concretização de um projeto das elites republicanas de São Paulo, preocupadas em ressaltar o papel dos paulistas no processo de construção da Nação. O projeto concebia uma instituição de cunho eminentemente "memorialista", assentando-se na sacralização de um evento, a Convenção de Itu, reunião republicana realizada a 18 de abril de 1873 na cidade de Itu, Província de São Paulo, na qual tinham sido lançadas as bases do PRP - Partido Republicano Paulista.

Museu Republicano "Convenção de Itu", fotografado em abril de 1923.
Fotógrafo: Frederico Egner

No início de 1872, Américo Brasiliense reuniu os republicanos em São Paulo para discutir e aprovar as seguintes posições: 1 - que o partido, de acordo com a forma federativa que devia ser a da República quando se organizasse, não fosse um ramo ou uma seção do Partido Republicano já formado no Rio de Janeiro, mas o Partido Republicano Paulista, dotado de antemão de uma autonomia assemelhada à que caberia às províncias na futura Constituição política do país; 2 - que ficasse nomeada uma comissão de três membros para precisar e definir as idéias gerais apresentadas naquela reunião; 3 - que a arregimentação geral de todos os aderentes se fizesse em torno do Clube Republicano da Capital, através dos Clubes dos municípios. A comissão a que faz referência o item n.º 2 ficou composta por Américo Brasiliense, Campos Sales e Américo de Campos. Logo em seguida, a comissão redigiu a sua primeira circular, contendo as deliberações da reunião. O documento, mantendo-se dentro dos limites do Manifesto Republicano de 1870, afirmava que a mudança do regime político não seria feita por meios violentos e contornava a questão da existência do trabalho escravo: "sendo certo que o partido republicano não pode ser indiferente a uma questão altamente social, cuja solução afeta todos os interesses, é mister entretanto ponderar que ele não tem e nem terá a responsabilidade de tal solução, pois antes de ser governo, estará ela definida por um dos partidos monárquicos". Definida esta posição frente à abolição da escravidão, abriram-se as portas do Partido Republicano à aristocracia fazendeira. Dado o passo inicial para a unificação das forças dispersas, a etapa seguinte deveria ser a convocação de um Congresso, que conseguisse a participação de representantes de todos os Clubes da Província de São Paulo. Após consultas às bases quanto à data e o local onde deveria ser realizado o Congresso, a maioria escolheu o dia 18 de abril de 1873 e a cidade de Itu, distante noventa quilômetros da capital. O Clube de Itu era tido então como um dos mais ativos da Província e, por outro lado, a quase totalidade dos núcleos republicanos localizava-se no centro-oeste. Na Província de São Paulo, os Clubes Republicanos eram formados tanto por representantes de grupos urbanos (jornalistas, comerciantes, médicos, advoga

Comentários