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Publicado: Terça-feira, 1 de outubro de 2019

O olhar do Poeta

O Olhar do Poeta

            Há algumas semanas atrás eu passava pela praça. Era hora do meu almoço. Bem perto de mim, uma revoada de andorinhas levantava voo.

            Que espetáculo mais lindo!

            Na correria da nossa vida não vemos e nem sentimos essas maravilhas das coisas mais simples. Olhamos com os olhos, mas, não penetramos.

            De repente acelerei meus passos, atravessei a rua e entrei numa loja em busca de papel e lápis. Verifiquei as horas e eu tinha apenas vinte minutos para escrever um pensamento. Escrevi como se estivesse flutuando.

            Gosto de ler e escrever. Quando leio um texto, algo me seduz em virar o texto ao meu modo. Cedo ainda comecei a rascunhar e a jogar fora meus escritos, até que comecei a ver as coisas com um novo olhar.

            O poeta e compositor Vinicius de Moraes, dizia em uma de suas poesias: “A vida é a arte do encontro apesar de haver tantos desencontros”.

            Certa vez uma mulher cortando uma cebola (aquilo que ela fizera centenas e centenas de vezes), ficou admirada. Ela notou aqueles anéis e pétalas perfeitamente ajustados, a luz se refletindo  neles, parecendo um vitral.

            Meu Deus que linda a natureza!

            Com certeza, se um poeta fosse definir uma cebola ele diria que a cebola é uma rosa com escamas de cristal.

            Este é um exemplo que devemos ver tudo com olhos de poeta, com olhos de amor. Cada olhar revela um mistério e um universo particular. Revela sentimentos que veem de dentro de cada ser.

            Eu tinha uma vizinha que decretou a morte de uma belíssima primavera que florescia na frente de sua casa, porque ela sujava o chão e, com isso dava muito trabalho para sua vassoura.

            Seus olhos não viam a beleza do tapete que se formara das pétalas que caiam da primavera.

            Seus olhos só viam o lixo!

            Tenho no meu quintal um pé de acerola. Numa visita da minha tia Lelina, com mais de noventa anos ela exclamou ao ver o pé de acerolas carregado de frutos: “Que lindo parece uma árvore de Natal”.

            Sob o olhar da minha tia, este pé de acerolas ficou sendo a nossa árvore de Natal.

            Ao longo do nosso caminho nos deparamos com olhares de amor, fé, compreensão, paciência, tolerância... Temos que espalhar esses olhares.

            Conta-se que na Província da Inglaterra um jovem casal recém-casado, chegou de mudanças. Vinha de outro país em missão profissional. Logo nos primeiros dias a esposa notou que naquela rua todas as casas eram iguais, todas pintadas de cinza escuro. Notou também que as casas eram todas fechadas, não se via ninguém para conversar, fazer amizade. Ela se queixava com o marido que nada podia fazer. Até que ela, lançando um olhar pela janela, viu a sequência das casas, dava a impressão de um lugar sinistro e feio.

Não pensou duas vezes, decidida resolveu mudar pelo menos a sua casa. Foi a uma loja de material de construção e comprou tintas azuis, pincéis, lixas e colocou  mãos a obra.

Foi pintando parede por parede. A casa de imediato foi ficando completamente luminosa. Mas, ela queria mais, e foi a  uma loja de jardinagem. Comprou vasinhos coloridos com mudas de violeta, mini- rosas...  colocou gerânios nas janelas ... Tudo muito lindo. Qual não foi sua surpresa, quando ela olhou a casa ao lado estava sendo pintada pela vizinha.  Que alegria! Ganhou uma amiga. Mas, não parou por aí. Mais  mulheres foram chegando pedindo orientação.

Sensacional! A rua inteira com casas coloridas!

Esta rua é o ponto turístico mais visitado da Inglaterra por seu colorido.

Na entrada da rua um outdoors bem grande escrito:

Sejam bem vindos. A beleza desta rua  se deve ao ideal de um casal que com o olhar coloriu suas vidas e quis distribuir com olhos de amor ao longo de seu caminho.

Podemos e devemos colorir nossa vida através do olhar.

Em tempo:  levei quase 30 minutos mas, aí está a inspiração que me veio da revoada das andorinhas.

Ditinha Schanoski

 

 

 

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