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Publicado: Sábado, 7 de outubro de 2017

O mistério dos roubos a bancos públicos

2 de outubro de 2017. Um túnel de 600 metros foi escavado na região da Chácara Santo Antonio, em São Paulo, por bandidos que pretendiam roubar 1 bilhão de reais. A construção do túnel levou três meses e contou com o trabalho de pelo menos dezesseis homens, que foram presos pela polícia. Caso tivessem sucesso em sua empreitada os ladrões teriam sido regiamente recompensados com uma fortuna equivalente a 50 prêmios gordos da Mega Sena. O alvo: Banco do Brasil.

7 de agosto de 2005. Um grupo de cerca 36 de bandidos escavou um túnel de 80 metros para chegar ao cofre de um banco em Fortaleza, Ceará, durante um fim de semana. Levaram 164 milhões de reais, dos quais foram recuperados apenas 20 milhões. Como o furto foi executado no fim de semana, somente na segunda-feira é que foi descoberto. A quadrilha contou com a ajuda de um ex-segurança do banco e um ex-prefeito de Boa Viagem, no Ceará. Foi o maior furto da história de roubos a bancos no país. 27 bandidos foram presos. O alvo: Banco Central do Brasil.

3 de outubro de 2017. Quatro bandidos armados renderam um vigilante e assaltaram uma agencia bancária no bairro São Quirino, em Campinas. O grupo fugiu pela Rodovia Dom Pedro e acabou preso pela polícia em um congestionamento na rodovia. Alvo: Caixa Econômica Federal.

3 de julho de 2017. Na madrugada de sábado assaltantes penetraram em uma agencia bancária de Iranduba, município a 27 km de Manaus saltando o muro de uma casa vizinha que haviam alugado e chegando ao interior do prédio através da área de ventilação. Arrobaram o cofre, levaram as armas dos vigilantes e uma quantia não revelada em dinheiro. No dia anterior o alarme havia sido acionado e a empresa que monitorava o equipamento em São Paulo tentou sem êxito avisar a policia local, que não atendeu as ligações. Este foi o segundo caso de roubo registrado naquela agencia. No primeiro, em maio, os ladrões não conseguiram abrir o cofre e fugiram largando suas ferramentas no local. Alvo: Banco do Brasil.
     
Os crimes contra os bancos atingem todos os estados e todos os bancos, na forma de explosões, arrombamentos, assaltos, furtos e até sequestros. As estatísticas são desencontradas e duvidosas, tanto da Febraban (Federação dos Bancos), Polícias estaduais e federal, Sindicato dos Bancários e Contrasp (Confederação dos Trabalhadores de Segurança Privada). Esta ultima registra 2082 ataques a bancos no país em 2016, média de quase 6 ocorrências por dia.

Um ponto comum, visível nas notícias da imprensa, é o fato que a maioria dos ataques tem como alvo bancos públicos – Banco do Brasil e Caixa Econômica. Aí reside o mistério: por que razão estes bancos são preferidos pelos ladrões?
     
Chamamos Sherlock Holmes e Hercule Poirot para desvendar o mistério. Uma rápida visita ás instalações de algumas agências bancárias e a dupla concluiu que a segurança dos bancos públicos é precária, insuficiente e subornável. Outra descoberta dos famosos detetives foi a de que nos bancos oficiais o prejuízo é repartido por toda a população, tenha ou não conta bancária. Quando um banco público é roubado o dinheiro vai para as quadrilhas de assaltantes e o prejuízo vai para o bolso do contribuinte, que pagará através dos impostos a conta da ineficácia do banco e de seus gestores. No caso dos bancos privados os acionistas cuidam do seu patrimônio e o protegem contra roubos e fraudes. Elementar, meu caro Watson!
     
Mas não é somente de fora para dentro que os bancos oficiais são roubados. Também lá dentro acontecem assaltos bilionários.

15 de novembro de 2013. Henrique Pizzolato, condenado no Mensalão, foge do Brasil usando um passaporte falso em nome do irmão falecido em 1978. Pizzolato, um alto dirigente do PT, fora colocado na diretoria do Banco do Brasil para o projeto de poder do partido que governou o país por mais de 13 anos. O meliante foi extraditado da Itália e segue cumprindo pena no Brasil.

8 de setembro de 2017. Geddel Vieira Lima é preso, após terem sido encontrados 51 milhões de reais em dinheiro vivo em um apartamento em Salvador. Geddel fora nomeado vice-presidente da Caixa Econômica Federal no governo Dilma, indicado para o cargo pelo PMDB de Michel Temer.

Os defensores da privatização de empresas do governo ganham pontos quando levantam sua bandeira em prol da moralização e do combate á corrupção, através da venda dos bancos e outras empresas estatais para a iniciativa privada. Enquanto a privatização não vem outros ataques seguem acontecendo todos os dias, por dentro e por fora. Não tem mistério.

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