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Publicado: Segunda-feira, 15 de agosto de 2005

O jogo da exclusão

A palavra exclusão tem batido forte na minha face. Talvez por perceber que este sentimento é universal e inevitável. Ou talvez porque à medida que vou amadurecendo fica cada vez mais difícil assistir esse fenômeno e não fazer nada.
Ninguém gosta de se sentir excluído. Mas exclui o tempo todo e mal percebe.
Lembro de muitos momentos da minha infância e adolescência em que me senti excluída. E como adulta isso não deixa de acontecer. Esse sentimento arranha a nossa dignidade, a nossa crença no mundo e nas pessoas, a nossa confiança em nós mesmos.
Se ninguém gosta de se sentir excluído, por que exclui?
Tenho percebido que esse fenômeno está intimamente relacionado à vontade de pertencer. Vejo isso em todas as rodas – amigos, familiares e trabalho. O que mais queremos no mundo é nos sentirmos capazes, amados e aceitos do jeito que somos. E o que mais fazemos com os outros é criticar, julgar e apontar o dedo. Estranho paradoxo: como queremos que o mundo seja melhor se nós mesmos não conseguimos tornar nossas ações acolhedoras, receptivas e compreensivas?
A exclusão não está na sociedade. Está dentro de nós.
Converso muito com a minha filha sobre isso. A idade da pré-adolescência gera muitas rodinhas e panelinhas, que se amplificam através dos pais e dependendo da forma como isso é tratado, vira um jogo difícil de não participar. Sobra pouco lugar para ficar: ou do lado de quem exclui, ou do lado de quem é excluído. E nenhum dos lados é bom. Mas se você não participa, está fora do jogo.
Nos dias atuais em que prevalece a competitividade é urgente aprendermos a criar um novo espaço, onde haja lugar para as diferenças, onde cada ser humano possa ser aceito do jeito que é, acolhido não apenas por fazer o que se espera dele, mas simplesmente por ter nascido, já que cada vida é sagrada.
Estamos caminhando para uma nova era, que pede de nós mais humanidade e menos competição, mais acolhimento e menos crítica, mais aceitação e menos julgamento. Não é possível pensar em paz no mundo se não começarmos a agir dentro do nosso pequeno mundo. Todos os espaços coletivos têm essa responsabilidade. Empresas, escolas, comunidades, política e a nossa própria família. É preciso criar um contexto que ofereça outra opção além do que estamos acostumados. Um contexto que abra lugar para todos. Uma família que valorize cada filho do jeito que é, sem comparações. Uma empresa que estimule o crescimento profissional através do auto-desenvolvimento e não pela famosa “puxada de tapete”. Uma escola que saiba lidar com os problemas disciplinares – que não são poucos – de uma forma direta e transparente em vez de fechar os olhos e tirar da frente o que incomoda. Uma comunidade que saiba ouvir todos os pontos de vista, sem se deixar levar por vaidades e hierarquias de falso poder.
Sei que falta uma eternidade para isso acontecer. E muitos me chamarão de sonhadora. Sou mesmo, graças a Deus. Mas como dizia John Lenon: “You may say I´m a dreamer, but I´m not the only one…”

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