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Publicado: Sábado, 1 de maio de 2010

O hábito de ler

Desde muito tempo o homem se preocupa em registrar ideias, pensamentos, memórias, obrigações, compromissos, acontecimentos, imaginações, histórias... Não há dúvida que o objetivo é deixar gravado aquilo que pode ser perdido, mas a esperança é de que possa servir para alguém no presente ou no futuro. Espera-se, assim, que seja lido.

O acervo escrito disponível é gigantesco, apesar de tudo que já se perdeu com catástrofes, guerras, incêndios, destruições, descuidos...

Se o hábito de escrever envolve muita gente, seja por gosto ou por obrigação, o hábito de ler não goza do mesmo prestígio nem dos mesmos estímulos. A população tem medo dos livros, especialmente dos mais volumosos. Notamos uma verdadeira preguiça de ler além daquilo a que somos obrigados. Ficamos satisfeitos com os resumos das ideias, com os sumários das obras, acabamos com uma “cultura de almanaque” como se dizia antigamente. Hoje, com a internet, a preguiça aumentou não só para leituras, mas também para escrever e mesmo para pensar. Isso se torna um grande prejuízo para a cultura, para a língua, para o vocabulário em uso...

Não podemos ignorar que a cultura da humanidade, acumulada ao longo dos tempos está nos livros. Aliás, a leitura é um dos únicos meios de se aprender sem ter que experimentar na prática e um dos importantes meios de difusão da cultura.

Muita gente até reconhece que gostaria, mas não consegue ler um livro; cansa-se logo e abandona-o.

A leitura é uma necessidade, mas sobretudo um hábito que se deve adquirir desde a infância, através do estímulo dos pais. É claro que isso vem acontecendo cada vez menos, já que os próprios pais não se preocupam com isso, até porque muitos deles também não foram estimulados. Quebrar essa corrente não é fácil...

A questão é acreditar na força da leitura como meio eficaz de aquisição de cultura e de saber; de adquirir conhecimentos e informações derivadas de experiências vividas por outros e que podem nos ajudar a viver melhor. 

Tatiana Belinky, escritora de livros infantis, tem um conselho para estimular as crianças a ler: “Os livros devem ser deixados ao alcance das crianças. É necessário expor a criança ao livro e expor o livro à criança. E deixá-las à vontade. É importante ainda levar as crianças a livrarias, bienais e bibliotecas públicas, onde elas vão poder levar livros para casa e, depois, devolver. Assim, elas vão saber lidar com o livro. Não vão vê-lo como uma coisa descartável. O livro nunca é descartável. Podemos não gostar de um livro. Mas aí é só ler outro.

Ela mesma declara que foi estimulada pelos avós e pelos pais: “Comecei a ler aos 5 anos de idade. Nasci e me criei o meio dos livros... Eu sempre tive uma estante pequena, cheia de livros, no meu quarto.

A leitura é uma questão de quantidade e qualidade. É responsabilidade dos pais manter em casa livros e revistas de qualidade, evitando a presença nefasta de pseudo-literaturas, que prejudicam a formação dos filhos e ocupam o espaço que deveria ser preenchido por leituras saudáveis.

Forçar não adianta; o melhor caminho é criar oportunidades que motivem e estimulem a leitura. Apoiar as necessidades escolares, bem como as sugestões de leituras e trabalhos. Interessar-se, ler com eles... O hábito vem ao seu tempo. 

Contar (ou ler) histórias para as crianças, logo cedo, não só agrada, como ajuda muito. Além de propiciar o contato entre pais e filhos, incentiva a criação de fantasias e sonhos saudáveis.

A responsabilidade dos pais é formar os filhos, desenvolver seu potencial e influir para elevar o nível dos seus gostos e hábitos. Na verdade é uma luta, mas que pode ser vencida.

É preciso evitar que se contaminem pela “cultura” televisiva, inclusive replicada nas revistas de bancas. Coloque no lugar boas leituras; elas ajudam muito, particularmente na apreciação do Belo, da Arte e do Bem.

Lembre-se: nunca é tarde para começar; uma alternativa interessante para criar intimidade com as grandes obras é começarmos com textos curtos e simples.

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