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Publicado: Quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

O destino é como o mar

O destino é como o mar
"E quem sabe o que a maré poderá me trazer?"

Tenho evitado ver ou ouvir as histórias dos jovens que morreram na intensa tragédia de Santa Maria. Primeiro, porque todos nós desconfiamos da veracidade; a Internet facilitou a publicação de mentiras. E segundo, porque a compaixão, esse sentimento que nos coloca no lugar do outro, tem me tirado o fôlego. Julgo não suportar a ciência dessas histórias todas: meu coração já não é tão jovem assim.

Exatamente como a cronista Martha Medeiros, eu também “tenho dois filhos que comumente saem à noite, dançam, se divertem em lugares fechados, e eu não faço vistorias prévias, não peço laudos, não investigo, simplesmente confio que eles estarão em segurança. Quem pode garantir? Alguém deveria, mas o destino não se responsabiliza. Nunca se responsabilizou”.

Destino?

Sim, destino. Esse conceito duvidoso, tão ignorado e rejeitado pelos mais céticos, como eu já fui um dia, não sai da minha cabeça. Fico imaginando sua força e seu poder dominando tudo... Como um mar revolto com vontade própria, agindo e reagindo sobre as nossas vidas.

Por isso, também, a fala do ator Tom Hanks, interpretando o principal personagem do filme "O náufrago", fica ecoando em meus ouvidos: “E quem sabe o que a maré poderá me trazer?”

Lya Luft, em seu último romance, usa o mar e a casa do mar como cenário da relação amorosa entre os avôs e a neta defeituosa. Num determinado episódio do livro, o avô ensina sua neta que quando a onda parece grande demais é necessário se encolher para que ela passe por cima. E pra isso, faz um verso: “Entre mim e a sedução do mar não avanço nem fico: escuto. Quando devo decidir, espero: a escolha pode ser a morte, e ainda não quero me suicidar.”

O destino é como o mar. Em suas profundezas ficam os segredos e os mistérios, a esperança e o medo. Em muitas situações nadamos sozinhos, contra a correnteza. Em outras, nos largamos à deriva das águas calmas e traquilas. Melhor seria, - como sugere Lya Luft, em uma das suas poesias - fechar os olhos e deixar que as ondas nos carreguem com os afogados e as criaturas do mar.  

Mas, o mar é perigoso. Por mais que a gente aprenda a se recolher quando a onda parece grande demais, um dia ela nos surpreende. E com sua gigantesca força, como disse Medeiros, “nos tira o ar e nos faz lembrar o que tanto buscamos esquecer: que somos todos vulneráveis diante da fragilidade da vida.” 

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