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Publicado: Terça-feira, 28 de março de 2017

O colecionador

O colecionador
Réplica de "Davi", de Michelangelo, exibida em uma praça de Okuizumo (Japão).

Quando recebiam visitas a mulher fazia questão de sair amostrando a casa. Entravam em um por um dos cômodos. Um roteiro cheio de surpresas desagradáveis, como entrar no banheiro ou ser obrigado a subir na escadinha para ver o sótão. Mas, constrangedor mesmo era ela abrir o guarda-roupas e puxar todas as gavetas. Quando vinham as de cuecas dele, não sabia em que lugar enfiar a cara. Ele as organizava em ordem cronológica. Havia também um espaço reservado às usadas em ocasiões especiais. Ali se podia ver, por exemplo, a ceroula que usara na lua de mel, há mais de 30 anos. Ou a que estava vestindo quando ficou em cativeiro, vítima de um sequestro fracassado em Atenas durante as olimpíadas. Embrulhadas em saco plástico à vácuo, eram a coqueluche do tour pela casa. Ele começou a coleção timidamente, sem interesse em glória. Era mais um complexo de nudez; um arranjado de perturbações sobre se vestir para mostrar o corpo. Hoje de manhã, tropeçou vestindo uma cueca e bateu a cabeça. Morreu nu.

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