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Publicado: Domingo, 27 de abril de 2008

O chapéu resistirá!

Crédito: Google Imagens O chapéu resistirá!
Tudo pode cair de moda na indumentária, até mesmo as recém-inventadas ceroulas e os modernos espartilhos, mas os chapéus hão de resistir bravamente. Isto é tão certo quanto a eleição de Prudente de Moraes no próximo pleito.
 
Admito que a procura pelo artigo vem caindo nos últimos meses, fato desolador mas inegável, na qualidade de proprietário de uma casa do ramo. Atribuo, contudo – e o tempo me dará razão, que esta debandada da freguesia é fenômeno isolado e momentâneo.
 
Não se lançam assim, no fosso do esquecimento, três gerações dedicadas à arte e ao ofício da chapelaria. Uma dinastia que começou com meu avô Ariovaldo, no “Palácio dos Chapéos”, continuou com o glorioso “Ao Chapéu Elegante”, casa que marcou época sob o comando do meu pai, Jabur, e prossegue comigo, com a afamada “Chapelândia”.
 
Afirmar que os chapéus cairão em desuso é o mesmo que dizer que deixarão de ser usados os leques, as abotoaduras, os cueiros, as anáguas e as galochas. Trata-se de sandice a que não se deve dar crédito. Um cocuruto desprovido de chapéu é uma afronta aos bons costumes, quase uma incivilidade no passeio público e nos compromissos sociais. Além de ser também uma descortesia para com as damas, que aguardam que o tirem da cabeça à sua passagem, em sinal de respeito e galanteio.
 
Em suas variadas formas, eles têm lugar cativo nas ruas e na história. Os panamá, os coco, os de abas largas e os nem tanto, os de feltro, os de couro, os de lã e, porque não dizer, os de palhinha. Sim, os de palhinha branca, que tanto alvoroço fazem nas quermesses, festas do Divino e páreos do Jockey Club, engalanando os janotas.
 
Mais que objeto de adorno, o chapéu tem serventia. É isolante térmico sob o sol inclemente, protege do vento as madeixas das melindrosas e os cachos do maganões e serve até de guarda-chuva, em pés-d’água de menor intensidade.
 
Sejamos realistas, meus leitores. Com o fim do chapéu estaria extinta toda uma cadeia produtiva que gira em torno dele, sacrificando milhares de empregos diretos e indiretos. Seria um desastre na pujante indústria de porta-chapéus, também chamados de “fradinhos”, peças indispensáveis nos vestíbulos das residências e cuja manufatura segue em franca expansão, tanto de um lado quanto de outro do Tratado de Tordesilhas. E que dizer dos mendigos,  que não teriam onde colocar os parcos caraminguás que lhes são lançados nas portas das igrejas? Até eles estariam em maus lençóis com a extinção do chapéu.
 
Outros abalos irreparáveis, na falta desse item indispensável do vestuário, se fariam sentir nas comissões de frente de escolas de samba, nas festas de peão e nas romarias montadas rumo a Aparecida do Norte e a outros santuários. Sem falar naquele famoso quadro do Raul Gil, que obviamente deixaria de existir.
 
Nem todos, entretanto, têm a mesma perseverança e obstinação que eu nos negócios. Já vejo fraquejarem alguns concorrentes de peso, o que para mim é motivo de regozijo. É o caso do “Chapelão de Ouro”, que desde a semana passada ostenta em sua vitirne uma faixa com os dizeres: “Passo o ponto a quem interessar possa, com farto sortimento de chapéus incluso. Tratar comigo no horário da sesta”.
 
É também do “Chapelão de Ouro” essa promoção, que consta de um panfleto distribuído nas ruas: Na aquisição de qualquer modelo de chapéu das afamadas marcas Ramenzoni e Cury, V.Sa. ganha um boné para seu menino e um véu de missa para sua patroa.
 
Duvido que dê retorno. Há de fechar as portas, brevemente. Aí então reinarei sozinho no mercado.

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