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Publicado: Sexta-feira, 26 de junho de 2015

O carrinho de miúdos

O carrinho de miúdos

Das pessoas ainda vivas, e porque faz tempo, poucas poderão dizer que conheceram aquele veículo peculiar, fechado e com portas somente nos fundos, a oferecer de porta em porta miúdos em matéria de carne bovina ou suína. E de tração animal.

A oferta era externa nas ruas e aí criava-se um interessante alvoroço das donas de casa à procura de tais produtos. Na memória talvez tenha sido fixado, por exemplo, aquele fígado bem limpo e sem tanta nervura, transformado em bifes deliciosos e, em especial, aqueles à milanesa. Hummmm

Algo mais ou menos parecido com a normalidade de como também se recolha leite e pão deixados na soleira das portas, sob pagamento mensal.

Época da lata de goiabada ou algo similar no dia do fechar a conta nos armazéns, sacaria à porta, lembrança hoje mantida somente nos mercados municipais.

Vizinhos se conheciam todos, amigos e disponíveis. Extremamente comum a procura de sal da parte de uma senhora e depois a primeira algum dia buscar açúcar da outra. Expedientes simples, costumeiros, normais.

Frequente a confecção de bolos, com pedacinhos oferecidos ao vizinho de cima e ao de baixo. Prosas nas calçadas no fim da tarde.

Tire logo da cabeça imaginar que vem agora uma crônica saudosista, a preconizar que tudo antes era bom e que agora tudo igualmente se banalizou ou piorou demais.

Não tanto ao céu, nem tanto à terra.

A amplitude moderna de ofertas de quaisquer produtos e novidades que surgem todos os dias, para não ir ao exagero de dizer-se que aconteça a todas as horas. Se se considerar porém a exibição farta das novidades na televisão, até se conceda falar em mutações a cada hora.

Ainda na mesma área de apreciação, pela velocidade infrene das novidades mil, percebe-se que a manteiga aceita agora vira dúvida no dia seguinte. O tradicional remédio infalível para dores de cabeça, nossa, causaria câncer. Chocolate engordava e hoje faz bem. E a indefectível Coca Cola, sempre festivamente consumida? Essa passou incólume e tirou de letra as periódicas ondas de que seria maléfico o seu consumo.

Na verdade, hoje, vive-se o burburinho da improvisação.

Este curto papo apenas faz introduzir uma fileira sem fim de considerações sobre como a velocidade e o avanço tecnológico se impuseram, sem tempo de que alguém parar para pensar, se bom ou se ruim.

Uma coisa entanto é certa.

A pressa nas mudanças.

Isso porque em termos de respeito, cidadania e conceitos outrora inamovíveis, na modernidade são relegados goela abaixo, sem mais. Valores morais da sociedade não mais se salvam nem existem. A pressão é tamanha, a ponto de que inclusive no mundo da espiritualidade, crenças basilares começam a serem revistas, sob concessões às vezes que a própria natureza repugna. Dito de outra forma, as minorias se impuseram à maioria que, esta sim, se transmuda em vítima daquelas. Podem os cidadãos por enquanto pensar sem comentar com ninguém, que aquelas imposições seriam ridículas, condenáveis, até pouco tempo tidas como um abuso se perpetradas por seres humanos.

E daí, como fica?

. . .

Diga você.

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