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Publicado: Sexta-feira, 29 de março de 2019

Brasileiro Dinheirista (O Vício da Avareza)

Crédito: Internet Brasileiro Dinheirista (O Vício da Avareza)
Quem se deixa levar pela cantilena do capeta acaba se tornando um dinheirista empobrecido, tão pobre que só tem dinheiro.

Eis um pecado sempre em moda. Principalmente no Brasil, percebemos uma avidez desmedida em relação ao dinheiro e à ostentação dos bens materiais. Será trauma coletivo de uma sociedade com uma síndrome de vira-lata da qual não consegue se livrar? Será baixa auto-estima social de um povo que não consegue se fazer representar entre outros grandes deste mundo? Ou será apenas mais uma espécie de pecado ao qual muitos se entregam sem pestanejar?

É fácil reconhecer o avarento: é aquele que coloca o dinheiro acima das pessoas; que baseia seus interesses, atos e relacionamentos tendo por base a riqueza dos outros; que sempre desconfia daqueles que lhe pedem uma ajuda ou favor; que não se importa em auxiliar e até mesmo em não se relacionar com os mais pobres; que condiciona uma ajuda a uma contrapartida, quase sempre desproporcional e que tira vantagem do desespero de um necessitado; etc.

A avareza é um vício de muitas pessoas na atualidade. E sabemos que é um vício justamente porque a maioria não se dá conta dele. Cada um é treinado para pensar apenas no seu cofrinho e no incremento da própria conta bancária. O importante não é o “ser”, mas o “ter”. E quando vem a decepção de um imprevisto financeiro ou o prejuízo de um investimento ruim, vem a revolta para somar-se à frustrada ganância. O avarento é vazio por dentro e pensa que é amado pelo dinheiro que possui. Quando perde a grana, sente-se incapaz de ser amado. Quando perde os bens materiais que ostenta na exterioridade, não tem nada para mostrar de bom em sua interioridade.

Sim, o brasileiro é dinheirista. Por trauma ou falha de caráter, assumiu de vez o lema de Samuel Blaunstein (personagem do ator Marcos Plonka): “Fazemos qualquer negócio!”. Viciado contumaz na Lei de Gérson, pela qual prevalece quem consegue dar um “jeitinho” em tudo, o brasileiro avarento não pode ver uma mínima chance de obter vantagem sobre os outros, nem que tenha de vender a mãe para obter sucesso. O maior câncer social brasileiro, o flagelo da corrupção, da sede desmedida de dinheiro e poder, tem como causa pura e simples o vício da avareza.

O avarento recebe como prêmio a solidão. Mas não aquela boa solidão, bem medida e calculada, vivida por livre escolha e nos momentos oportunos, usada para meditar, rezar, estudar, etc. O fruto da avareza é a solidão de quem já não pode escolher deixar de ser triste, pois as pessoas se afastaram, não mais a suportam, não têm mais prazer algum em estar perto dela. Eis então a grande cilada desse pecado: a avareza mata o avarento, empobrece sua alma.

Contra a avareza, Jesus nos ensina: ninguém pode servir a dois senhores, não se pode amar a Deus e ao dinheiro na mesma medida e ao mesmo tempo (cf. Mt 6,24). O tratamento contra o vício da avareza é a vacina da caridade. Primeiro, reconhecendo que somos apenas administradores temporais dos bens materiais que Deus nos permitiu conquistar. Depois, aprendendo a ter compaixão para ajudar os mais pobres: seja por incompetência, azar ou ciladas da vida, nem todos conseguiram uma certa estabilidade material. Por fim, reconhecendo que o dinheiro, embora importante para todos, não é o essencial para uma vida feliz. O caixão não tem gavetas. Extratos bancários enormes não levam ao Paraíso.

O pai da avareza é o Diabo, que pretende ser o Príncipe deste mundo no lugar de Deus e que se dedica a enganar os seres humanos através da ganância, para levá-los ao mesmo erro. O mestre da Caridade é Jesus Cristo, que sendo o Filho de Deus desejou tornar-se um pobre ser humano e colocar-se a si mesmo numa cruz para pagar com seu próprio e valioso sangue o preço dos pecados de todos nós. Quem se deixa levar pela cantilena do capeta acaba se tornando um dinheirista empobrecido, tão pobre que só tem dinheiro.

A pessoa caridosa não se deixa enganar pelo vil metal. Não cai na ostentação orgulhosa, mas vive um humilde contentamento em possuir o que precisa. Usa seus bens não para acúmulo, mas para ajudar os que precisam. E não quer nada em troca, nem juros e nem favores, pois já é bastante grato a Deus por tudo o que tem. Portanto, cada um procure libertar-se do vício da avareza, tornando-se um espírito verdadeiramente livre e rico da graça divina.

Amém.

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