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Publicado: Quarta-feira, 30 de maio de 2018

O bolsa caminhoneiro - a crise vista pela economia

Depois do Bolsa-Família, do Programa Minha Casa Minha Vida e do Bolsa Presidiário, vem ai o Bolsa Caminhoneiro, mais um programa de subsídios do Governo Federal.

Os brasileiros se mostraram solidários ao sofrimento dos caminhoneiros, com 87% apoiando o movimento que lutou pela redução do preço do diesel, a isenção de pedágio dos caminhões vazios, a tabela de preços mínimos do frete e outras conquistas. Todos sabemos que eles foram vítimas de um conjunto de circunstancias econômicas que levaram a categoria a um dilema: cada quilometro rodado significa prejuízo ao motorista.

O calvário do caminhoneiro começou a ser desenhado no governo Lula e continuado com Dilma, quando em 2009 incentivos foram criados para financiar a compra de bens de capital, incluindo caminhões. Financiamentos de 100% do veículo, com prazo de 8 anos e juros de 10% ao ano, abaixo da inflação, foi o que o BNDES fez sob as ordens do governo do PT. Resultado: de 2001 a 2016 a frota de caminhões cresceu 84% e atingiu 2 milhões de veículos. Com muito caminhão para pouca carga a recessão tirou da estrada mais de 200 mil veículos que ficaram ociosos. Primeira lição de economia: quando a oferta aumenta mais que a demanda, os preços caem e assim foi com o frete.

O governo, sufocado pela montanha de gastos que ele próprio criou e atolado em dívidas, parou de construir e fazer manutenção das estradas. O caminhoneiro teve que rodar desviando de buracos, com frete baixo em longas distancias. Quem olha as estradas do Sul Maravilha – Bandeirantes, Castelo e Imigrantes – não tem ideia do estado de calamidade de trechos da BR-101 e 116 em direção ao Nordeste. Segunda lição de economia: obras de infraestrutura tem que ser bancadas pelo investimento público.

A Petrobrás, que dizem ser do povo, vendeu combustíveis com subsídios durante os governos do PT. O preço da gasolina foi congelado por muitos anos e a Petrobras, dirigida na época pelo clã que hoje responde por crimes na justiça, vendia os derivados de petróleo a preços abaixo de mercado. Tudo para controlar artificialmente a inflação. Como resultado, a estatal quase quebrou com uma dívida colossal com bancos nacionais e estrangeiros. Estima-se que 57 bilhões de reais foram gastos com subsídios ao diesel. Terceira lição elementar de economia: vender com preços abaixo do custo gera prejuízo e afunda a empresa.

A conquista maior dos caminhoneiros neste maio de 2018, o congelamento do preço do diesel, é uma verdadeira Bolsa Caminhoneiro, e tal como os demais programas de subsidio vai ser pago pelo Tesouro (chamar o contribuinte de “tesouro” é uma forma carinhosa de assaltar o bolso de todos nós). Mesmo aqueles que só possuem uma bicicleta não motorizada movida a duas pernas, terão que pagar a conta estimada em 5 bilhões de reais até o fim deste ano.

Quarta e última lição de economia: quando a oferta de frete supera a demanda por transporte de cargas, uma parte dos transportadores se retira do mercado e assim se restabelece o equilíbrio oferta-demanda.

Mas o que fazer com os trabalhadores que perderam seu sustento por falta de mercado para seus serviços? Um governo inteligente e visionário teria destinado recursos para o treinamento dos trabalhadores visando outras ocupações. As energias não derivadas de combustíveis fósseis estão à espera de investimentos, tais como a energia eólica e a solar. E a construção de ferrovias daria ocupação a milhares de pessoas capacitadas. Sem falar no desenvolvimento e fabricação de veículos elétricos e híbridos. A energia limpa do futuro atropelou o “ouro negro”, caro e poluidor.

As leis da economia são frias, insípidas e racionais. Quando desprezadas por governos e agentes econômicos se transformam em catástrofe e revolta. A greve dos caminhoneiros é a consequência do desprezo pelo senso comum da economia e também da eterna esperança do brasileiro por uma solução milagrosa e salvadora. Que vem na forma de mais uma ilusão aplaudida pelos ingênuos de sempre.

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