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Publicado: Sábado, 29 de outubro de 2011

Novo tsunami: Os Determinantes Sociais da Saúde

Crédito: euzinha Novo tsunami: Os Determinantes Sociais da Saúde
no céu de Copacabana, "ALL FOR EQUITY"

O mundo se rendeu aos encantos da nossa Política Pública de Saúde. Na World Conference on Social Determinants of Health, realizada pela OMS (Organização Mundial de Saúde) no Rio de Janeiro há 10 dias, 120 países e mais de 60 Ministros de Estado ficavam perplexos com nossa ousadia e firmeza para construir um Sistema de Saúde universalizado nos últimos 23 anos.

Longe do ideal, a evolução continua. Somos um País aonde o direito à Saúde é programático e constitucional, para todos ! O mundo não tem funcionado sob essa ótica, mas abre agora um caminho para que a Saúde entre definitivamente como Agenda Política, aonde os determinantes sociais guiarão os passos do futuro da humanidade.

Chega a ser chocante os frutos dessa desigualdade: miséria, violência, drogas, fome, tabagismo, vulnerabilidade,conflitos raciais, subdesenvolvimento. Como enfrentar tudo isso sem saúde ? Impossível ! Como não enxergar que tudo isso influencia na saúde do mundo ? Impossível novamente.

O Brasil nunca renunciou, nas ultimas 2 décadas a oferecer acesso à saúde de todos. A cada passo dado, mais desafios, mais demandas,mais iniqüidades.

Foram discutidos todos esses temas, entre ministros, ONU, OMS, acadêmicos e sociedade civil e a conclusão é a mesma : Saúde não é tudo, mas sem ela não temos nada. Saúde não é tecnologia, é Política. Saúde se constrói e não vem de graça, e para isso precisamos mudar o rumo da formação dos nossos profissionais, que cada vez mais se distanciam do setor público e preferem ser “superespecialistas”. Saúde é combater fome, tabagismo,condições sub-humanas de vida, promover acesso a remédios , entre outras ações e isso é vontade política e não assistência médica.

Trouxe comigo uma mala de interrogações e perplexidades : temos dimensões continentais, diferenças absurdas, carências e resgates históricos para encarar. Ninguém faz isso sozinho e por mais que você pertença a uma classe mais privilegiada que tem acesso mais facilitado à assistência de saúde, esse conflito também faz parte do seu dia a dia.

Se buscamos um desenvolvimento social e sustentável, temos que participar da preservação da saúde das pessoas que nos cercam. E é triste incorporar esse discurso quase insano em meio a tantas crises que atingem esse setor, aqui e no mundo. O desperdício na Saúde Pública chega a 40 % e vai desde corrupções até má prática e indiferença...

Todas as grandes revoluções que se deram na Saúde não foram por aumento de Assistência e sim por Políticas Sociais que promovem a inclusão, proteção e diminuição das diferenças.

Por isso, páre para pensar (assim como fez o mundo...) :

Enquanto as crises econômicas mundiais estão sendo enfrentadas com cortes nas políticas sociais, o Brasil mantém na sua Constituição o direito universalizado à Saúde, com co-responsabilidade entre as esferas de poder (municipal, estadual e federal).

Quase um Canadá inteiro (cerca de 35 milhões de pessoas) saiu da miséria no Brasil, através de políticas de redistribuição de renda e inclusão social – aquela chamada “bolsa Família”, que poucos acreditam que funciona...

Quase uma Inglaterra inteira tem Seguro de Saúde privado no Brasil e hoje enfrenta dificuldade de acesso como no SUS – vai dizer que você conseguiu ir no seu super especialista assim, de “bate - pronto” ?

Enquanto 40 % de todos os remédios consumidos no mundo estão nos Estados Unidos, 30 % da população da África não tem acesso a nenhum tipo de remédio e a correção dessa absurda iniqüidade poderia evitar a morte de 4 milhões de pessoas...  E no Brasil , 100
% dos portadores do vírus HIV recebem gratuitamente os remédios para seu tratamento, através de vontade política que incluiu até quebra de patentes.

Hoje li a noticia do câncer de laringe do Ex Presidente Lula, com forte relação com o fumo e álcool, temas exaustivamente discutidos como determinantes sociais na saúde das pessoas. Assim como ele, somos todos vulneráveis ao mundo que nos cerca e aos hábitos que cultivamos ou absorvemos.

Somos 7 bilhões de pessoas, a expectativa de vida aumentou, envelhecer de modo saudável com certeza vai fazê-lo refletir sobre o porquê da ONU na sua ultima Conferência discutir exclusivamente as Doenças Crônicas não transmissíveis como tema de preocupação mundial .

Nosso ministro de relações exteriores , Antonio Patriota, sabiamente falou :”Os determinantes sociais da saúde, que são o conjunto de fatores sociais, econômicos, culturais, étnicos/raciais, psicológicos e comportamentais que influenciam a ocorrência de problemas de saúde e fatores de risco na população. Arelação entre saúde e desenvolvimento sustentável, são políticas de promoção e proteção na área de saúde que trazem benefícios para o bem estar social, para a economia e para o meio ambiente “

Continuo apaixonada pelo coletivo e agora, re-energizada com a certeza que faço parte de um time que pode mudar o mundo. E sabem como fui parar lá, no epicentro desse tsunami de discussões? Através do PROJETO PROQUALI, de Porto Feliz, aonde combatemos a fome em famílias mapeadas como insegurança alimentar grave, assistimos 400 famílias e em 3 anos distribuímos mais de 130 toneladas de alimentos a elas, fizemos parcerias com cooperativas, ações multisetoriais (todos foram introduzidos no bolsa família) e ganhamos um premio nacional este ano pelo Ministério da Saúde. Muito orgulho da minha equipe, que faz diferença no mundo que vive!

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