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Publicado: Segunda-feira, 16 de janeiro de 2006

Nosso lar é onde o coração não tem medo

Essa frase eu li em um livro chamado “Dançando o Sonho”. Mas é curioso como certas frases encaixam tão direitinho em nosso ser que é como se pudéssemos emprestá-las para sempre, sem pedir licença.
Então, adoto-a como minha também, agradecendo a possibilidade de me encontrar com alguém que nem conheço pessoalmente, mas que certamente fala a minha linguagem e me ensina, embora fale outro idioma, viva em outra cultura e seja de outro tempo.
Os encontros não se restringem apenas a olhares e abraços. Há encontros de palavras, que podem virar encontros de alma, mesmo que quem escreveu nunca saiba que abriu uma fresta de luz na pessoa que leu. Tantas coisas são assim.
Nosso lar é onde o coração não tem medo. E muitos de nós passamos a vida sonhando com uma casa, que é bem diferente de um lar. Sonhamos com tetos e paredes, com quartos e piscinas. Trabalhamos dia e noite, juntamos esforços e dinheiro, enfileiramos desejos, construímos histórias, planejamos a aposentadoria, resguardamos nossos receios e esquecemos de um detalhe, um detalhe importante: nosso lar é onde o coração não tem medo.
Como fazer para não ter medo? Como fazer para retornar ao nosso verdadeiro lar, lugar onde nos sentimos inteiramente bem com o fato de sermos quem somos, sem culpas, sem medo de não agradar, sem pavor do futuro ou rancores do passado? Como fazemos para voar em direção ao nosso lar, macio, acolhedor, com perfume de flores silvestres, lugar que é pura beleza e liberdade?
Não, eu não tenho essa resposta. Tenho apenas a pergunta. Tenho aprendido a aumentar as minhas perguntas e diminuir as minhas respostas, embora seja muito mais sedutor encontrar respostas do que perguntas. Sabemos realmente muito pouco dessa vida. E as perguntas têm o dom de nos levar para lugares novos, muito além do que sonhamos um dia. Porque perguntar é abrir uma avenida dentro de nós para que a sabedoria e o conhecimento cheguem de formas diversas, criativas e novas. Enquanto que as respostas, se não cuidamos, fecham portas, enquadram formatos e decidem o que existe e o que não existe. Sim, definitivamente eu prefiro as perguntas. E que as respostas a essas perguntas sejam leves como a brisa, de preferência sem fronteiras e sem donos. Que contenham muitas faces da verdade e que tenham janelas entreabertas para não impedir a corrente do vento. Respostas verdadeiras como a certeza da vida e inacabadas como a incerteza da vida. Respostas provocativas que levem a outras perguntas, humoradas para gerar sorrisos e escandalosas para surpreender.
Mas — definitivamente — eu prefiro ficar nas perguntas. Deixar o mistério da vida mostrar sua face oculta suavemente, abrindo frestas de luz e de sombra, convidando a morar no belo e no mágico, invisível, intangível, incompreensível. As coisas mais importantes da vida não têm respostas. Coisas como a morte, o nascimento, os encontros, o acaso, o amor, o desejo de aprender, os dons e talentos, os milagres.Mesmo assim, como a dualidade é parte inerente do ser humano, busco incansavelmente esse lugar, o meu lar, onde o coração não tem medo....

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