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Publicado: Sábado, 15 de dezembro de 2012

Natal

Natal
Domínio público

É Natal. Milhões de pessoas buscam os ingredientes necessários para a ceia que contará com peru, tender, lombo suíno, lagarto bovino, farofa de miúdos, cordeiro, coelho e tantas outras iguarias similares.

 
Nos hipermercados e feiras, corpos fatiados de animais são oferecidos aos consumidores, embalados em brancas bandejas de isopor, recobertas por plástico transparente. Tudo muito limpo e higiênico.
 
Longe dos olhos, um espetáculo dantesco jamais é interrompido. Gigantescos caminhões superlotados e repletos de excrementos transportam o “alimento” vivo.
 
O odor pestilento inunda o ar. Os animais se recusam a descer do veículo. Quedas e pisoteamentos acompanham a jornada. Os da frente freiam os de trás, cujo ímpeto é de estourar o plantel, apesar da fraqueza.
 
Debaixo de gritos, chutes e pauladas, os animais seguem pela rampa estendida - passagem direta para o corredor da morte – o abatedouro.
 
Molhados e tangidos com choques elétricos de 240 volts, o gado é instigado a prosseguir. Pra frente! Pra frente! – gritam os homens.
 
O cheiro do sangue dos companheiros mortos leva o terror aos grandes olhos castanhos. Empacam. Alguns caem. Os demais são impelidos a prosseguir.
 
Marretas golpeiam seus crânios para a redentora inconsciência, nem sempre com a precisão necessária. Violentos esguichos de sangue saem de focinhos, olhos e chifres esmagados.
 
Suspensos por uma das patas traseiras - muitas vezes ainda vivos - seus músculos se rompem devido ao peso dos corpos. Longas facas cortam gargantas. Porcos, cabras, ovelhas, aves e outros animais são igualmente abatidos, sem o emprego do atordoamento.
 
O processo de abate permanece primitivo e violento na maior parte do Brasil – não menos primitivo do que o consumo de cadáveres. Há até programas que objetivam uma morte menos traumática, como o “Programa Nacional de Abate Humanitário” - como se isso fosse possível.
 
Na noite especial em que se comemora o nascimento de Jesus, amigos e parentes confraternizam com bebidas, comidas e votos de felicidade.
 
Nas casas o milagre da transubstanciação se repete, quando o pão e o vinho se tornam dor, sangue e carne. Pena. Já não se fazem mais milagres como antigamente, quando os pães eram multiplicados e a água se tornava vinho.
 
Nesse Natal celebre a vida - não a morte. Não como os animais. Não é mais necessário.
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