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Publicado: Quarta-feira, 13 de abril de 2011

Museu Republicano e Itu: 88 anos de convivência

Em 18 de abril de 1923, a cidade de Itu estava em plena festividade: acontecia a inauguração do Museu Republicano, que em 18 de abril de 2011 estará comemorando 88 anos.

Segundo o Jornal República, inúmeras pessoas haviam chegado à véspera, e se adiantaram à comitiva presidencial para garantir uma comodidade nos hotéis da cidade. Ruas, praças e casas de negócios estavam cheias deles. Segundo o mesmo jornal, “uma gente alegre e divertida”.

Esta comodidade foi também oferecida pelos serviços da Estrada de Ferro Sorocabana, que não mediram esforços para colocar vários trens especiais em circulação. Segundo o inspetor geral, estes veículos permitiriam a “correspondência direta de todos os pontos extremos da Sorocabana com essa localidade”. Além disso, haveria trens especiais para a Força Pública, banda de música, etc., com 200 lugares, além do trem presidencial para Washington Luis e comitiva. Este último, com a chegada marcada para as 11h29.

Criado para ser um memorial da História Republicana Paulista, sua concretização contou com um longo processo de negociações, que envolveram posicionamentos políticos e pessoas que trabalharam para sua efetivação, criando-o como anexo da então sessão de História do Museu Paulista, conhecido também como Museu do Ipiranga.

Neste processo  destacam-se, entre outros, as atuações de Washington Luiz, que ocupou o cargo de presidente do estado de São Paulo entre os anos de 1920/1924; Affonso Taunay, organizador e diretor do Museu Republicano (1923/1946) e diretor do Museu Paulista no período de 1917-1945. Destaque também, localmente, para a atuação de munícipes e de Graciano Geribello, "prefeito da camara municipal" entre os anos de 1917/1922 .  

Segundo Taunay, Geribello (entre os anos de 1917 e 1918) já havia tentado sensibilizar o governo de São Paulo a comprar a “Casa da Convenção”. Esse intento também ficou registrado nas páginas do Jornal República que, ao lembrar o processo de aquisição da casa, também não se esqueceu de mencionar o ano de 1919 e a passagem pelo então presidente de São Paulo, Altino Arantes, por essa cidade.

O redator do outro jornal, A Cidade, em 15 de abril de 1923, também enfatizou essa determinação, afirmando que o então "prefeito Dr. Graciano Geribello, aproveitando sua passagem [Altino Arantes] pela Rua Carmo, mostrou a S. Excia o prédio da Convenção”.

Porém, efetivamente, apenas com a gestão de Washington Luis como presidente do estado de São Paulo, a cidade pôde receber seu Museu Republicano. Inauguração transcorrida entre as comemorações do primeiro centenário da Independência do Brasil e no momento em que Geribello, alegando “motivos de ordem particular”, havia renunciado ao mandato de prefeito municipal para o triênio 1923/1925. Promovida nova eleição, entre os vereadores eleitos, assumiu o cargo de prefeito Luiz Gonzaga Bicudo.  

A presença de Washington Luis em 18 de abril fazia parte de uma série de outras viagens que fez a Itu. Há registros de sua estadia em vários anos. Em 1908, quando exercia o cargo de Secretário da Justiça e da Segurança Pública do governo de Jorge Tibiriçá Piratininga, visitou as plantações de arroz existentes na fazenda Pirapetinguy, pertencente a Campos Netto.

Voltaria a Itu, pelos menos nos anos de 1909-10, 1922, 1923 (duas vezes) e 1926 como candidato a presidente da República. Em 1926, participou de um almoço comemorativo em nome da inauguração do novo edifício do Asilo Nossa Senhora da Candelária.

Em 1922 esteve na cidade para participar das festividades de inauguração da estrada de rodagem ligando Itu a São Paulo. Neste momento, Geribello estava no cargo de prefeito municipal, sendo seu vice Luiz Gonzaga Bicudo. Além das costumeiras boas vindas, segundo as Atas da Câmara Municipal, redigida em primeiro de maio de 1922, houve uma solenidade no salão nobre para a inauguração oficial de um retrato de Washington Luis. Pelo menos 100 pessoas estiveram presentes nesta solenidade, entre elas, o historiador e jornalista Francisco Nardy Filho.    

Neste ano (1922), Itu também marca sua presença nas comemorações do primeiro centenário da independência do Brasil, com a aprovação pela Câmara Municipal de um projeto de lei, posteriormente Lei Municipal, modificando a nomenclatura de algumas ruas e praças da cidade, trocando algumas denominações originárias do período colonial dos espaços públicos.

Assim, o Largo de São Francisco passou a ser denominado de Praça D. Pedro I; a Rua da Palma para Rua dos Andradas e a Rua Direita para Paula Souza. O mesmo para a Praça Municipal (Largo do Carmo), que passou a ser denominada Praça da Independência, que guarda na atualidade os momentos daquela festividade como a presença de uma placa comemorativa com o seguinte dizer: Praça da Independência - Placa do Centenário – 7-9-922. A mesma praça foi escolhida para a colocação do busto de Geribello: uma homenagem dos seus conterrâneos no ano de 1957.

Em 18 de abril de 1923, data da inauguração do museu, um artigo de página inteira do jornal ituano República intitulado Dr. Washington Luis, o redator, além de enaltecer a presença do republicano procurou também transmitir as suas próprias impressões sobre a cidade de Itu. Para ele, o movimento promovido em torno da inauguração do “Museu Histórico Republicano”, indicava a possibilidade de ver despertada na cidade e em seus moradores, a memória republicana paulista. Para ele, em especial, a memória republicana em Itu, pois naquele momento também estava se comemorando os cinquenta anos da Convenção Republicana.

Ainda para o redator, naquele momento a cidade de Itu representava um “verdadeiro museu de relíquias republicanas” a céu aberto, mas “tudo estava adormecido sob o pó da mais criminosa indiferença” e guardados, entre outros, “nos velhos casarões remanescentes do século XIX”.

Porém, nem todos puderam ver as festividades do dia 18. Uma carta datada de 21 de abril de 1923 e remetida a Washington Luiz, Taunay é bastante representativa daquela situação. Dentre os assuntos tratados, Taunay encaminha ao presidente um pedido dos ituanos para que “se deixasse o Prédio da Convenção ornamentado durante alguns dias”, com as folhagens, até o dia primeiro de maio. Isso, para que “as pessoas dos arredores e fazendas de Itu possam vir à cidade e ver o local do fato de 18” [inauguração]. 

Esse relacionamento com a comunidade é marcante em toda a gestão Taunay, que aqui fez muitos amigos, admiradores ou não.  

&Eacut

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