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Publicado: Segunda-feira, 23 de outubro de 2006

Minha esquecida Pentax

A primeira vez que me lembro de ter visto uma máquina fotográfica, devia ter três ou quatro anos de idade. Resumindo, parecia um aparelho de soltar flashes. Mal poderia saber da sua utilidade e do complicado processo entre o clique na câmera e a foto no álbum da família.

Através de uma máquina fotográfica muito velha e danificada, passei a ver o mundo por uma lente. Em um determinado tempo, foi um dos meus brinquedos. Ela não funcionava para nada, apenas para que eu olhasse pela janelinha de enquadramento da câmera.

Conforme fui crescendo, peguei intimidade com a máquina fotográfica. As mais comuns eram as automáticas, fáceis de usar, que a gente só lembrava de usar durante viagens, excursões, festas de aniversário ou festinhas de despedida na escola. A parte mais chata era pagar para revelar o filme e esperar ansioso para ver as fotos no papel. Outra coisa que incomodava era o pouco talento dos que conseguiam cortar cabeças, braços e pernas em fotos mal enquadradas.

Quando entrei no curso de Jornalismo, a fotografia foi matéria obrigatória durante um ano letivo inteiro. Com o professor aprendi a diferença entre as câmeras automáticas e as manuais, as capacidades de uma profissional e de uma amadora, as limitações das descartáveis, o processo de captação de imagens pela lente, a importância da luminosidade e do enquadramento, da velocidade da lente e das mãos firmes, o jogo de espelhos dentro da câmera, o processo químico que permite a revelação do filme e a gravação da imagem no papel fotográfico.

Curioso que sempre fui, me divertia durante as aulas. Para fazer os trabalhos pedidos pelo professor, agendava horários antes ou depois de alguma aula, a fim de poder utilizar o laboratório, chamado de "sala escura", para revelar e ampliar minhas fotos.

Empolgado, troquei os pés pelas mãos quando inventei de comprar uma câmera profissional, a conhecida Pentax.

Consegui uma usada, que pertencia ao professor Luiz Gazzola, irmão de outro professor, o Paulo Gazzola. Com o salário indo quase todo para o pagamento das mensalidades da faculdade, levei quase dois anos para pagar o financiamento que fiz no banco a fim de comprá-la. Mas valeu a pena. Com o tempo fui melhorando meu jeito de fotografar e cheguei até mesmo a fazer alguns serviços fotográficos daqueles bem básicos, para ganhar um dinheiro extra. Quando comecei a editar jornais, ela me foi útil ao extremo, principalmente na cobertura de eventos.

Mal terminei a faculdade, com a Pentax já totalmente paga, surgiram as primeiras câmeras fotográficas digitais. Na era globalizada, da informação rápida, passaram a ser essenciais. As redações dos jornais e revistas ligeiramente substituíram as câmeras convencionais pelas digitais. Assim também aconteceu comigo.

Com o objetivo de agilizar o meu trabalho também acabei me adaptando a elas. Tecnologicamente, são uma maravilha. Podemos ver as fotos na hora, apagar as que não ficaram boas e colocar no papel fotográfico apenas as que desejamos. Podem ser armazenadas no computador, em CD´s ou em DVD´s. Facilmente partilhamos as fotos com os amigos através de e-mails e páginas da internet.

Porém, como tudo na vida, há um efeito colateral. As câmeras digitais facilitaram a minha vida profissional, mas quem não gostou da história foi minha antiga Pentax. Este ano ela completou três anos de ociosidade em cima do guarda-roupa no meu quarto. Lembrei-me dela quando a mesma quase despencou lá de cima na minha cabeça. Acho que estava revoltada com sua solidão poeirenta.

Mesmo assim, não a venderei. Primeiro pelo sacrifício de ter conseguido pagá-la. Depois, por ser um marco de um tempo que já passou. Daqui para a frente a tecnologia continuará revolucionando o mundo da fotografia, embora as Pentax e similares continuarão sendo usadas por alguns.

Não importa se foi feita nesta ou naquela câmera, uma foto sempre fala mais do que mil palavras. Tem o poder de congelar no tempo uma boa lembrança e de registrar para a posteridade uma fração de segundo das nossas vidas. Nos fazem lembrar do ontem, para compará-lo com o hoje e sonhar o amanhã.

Amém.

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