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Publicado: Domingo, 1 de agosto de 2010

Linguagem, sentimento e opinião

Linguagem, sentimento e opinião
Quem lê jamais está sozinho

Confesso nunca ter me imaginado membro de Academia de Letras. Ainda hoje, depois de dois anos de atividades acadêmicas, sinto-me estranha e intrusa a um meio que não me pertence. 

Não sou escritora. Não penso como escritora. A relação com a escrita começou na minha adolescência quando desejava ser mais ouvida e desejada. Foi nessa fase que descobri que as palavras escritas são mais respeitadas do que as palavras faladas. Tanto para quem escreve, como para quem lê, a reflexão é fator indispensável na compreensão das letras.  Por isso, uso e abuso desse recurso: no espaço reflexivo me faço mais ouvida e compreendida. Tenho na memória as diversas situações em que a conquista do sucesso, profissional ou pessoal, recebeu uma grande ajuda das palavras escritas. Bilhetinhos, diários, cartas e mensagens sempre fizeram parte do meu universo, quem convive ou já conviveu comigo sabe disso.  

A prática da escrita me fez apaixonada pelas letras. Posso dizer que o jogo das palavras me causa prazer extremo: brincar com a estrutura do texto, trocar e combinar palavras, escrever e reescrever idéias são para mim exercícios de relaxamento. Meu pensamento é prisioneiro do texto e contexto; do ponto e contraponto; das linhas e entrelinhas. 

Não tenho dúvida de que foi dessa paixão que recebi a força necessária para desenvolver as muitas tarefas voluntárias no exercício da fundação da Academia Saltense de Letras. A existência de uma Academia de Letras revela a preocupação da cidade em incentivar e preservar o poder da linguagem escrita.  Dizia Monteiro Lobato que um país se constrói com homens e livros. Decididamente eu acredito nisso. Monteiro Lobato foi quem estabeleceu o padrão de qualidade da nossa literatura: foi a sua obra o caminho inspirador para uma legião de escritores brasileiros. São muitos os depoimentos de renomados escritores, que revelam como segredo do sucesso uma infância recheada de livros, lidos, por um pai ou uma mãe, por horas a fio. 

Quem lê jamais está sozinho. Os livros ampliam os horizontes, constroem valores e preparam para a vida. 

No entanto nos parece que esse tempo se foi... Num contexto de grandes conquistas materiais, de constantes revoluções tecnológicas e permanente anseio pela novidade, nunca estivemos tão sozinhos... Deixamos de valorizar a hora da história, da proza, da conversa boa e do afeto velado nas páginas de um bom livro.  E sofremos por isso: a angústia e a depressão têm mostrado suas faces nos mais diversos rostos; nas mais diferentes idades. 

Mas o que de fato importa no uso da linguagem é compreender que não existe desenvolvimento intelectual e aprendizagem da inteligência sem a exploração desse recurso. Durante muito tempo acreditamos que a genialidade e a capacidade intelectual fizessem parte da loteria genética de alguns poucos felizardos seres humanos.  Não é verdade. Inteligência se aprende, inteligência se ensina. 

Vygotsky, professor e pesquisador russo, construiu importante teoria sobre ensino e aprendizagem a partir do conceito de que a linguagem é a condutora do pensamento; e a relação entre pensamento e linguagem é responsável pela construção do conhecimento.  Isso quer dizer que um ambiente estimulador, de rica motivação intelectual, de amplas possibilidades acadêmicas tem papel determinante na construção da inteligência. 

É assim que eu vejo a função social das Academias de Letras. Mediar, estimular e possibilitar que as linguagens da literatura provoquem novos pensamentos, novos aprendizados e, fundamentalmente, novas ações.

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