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Publicado: Terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Líderes no futebol: ruins, escassos e distorcidos

Líderes no futebol: ruins, escassos e distorcidos
Fonte: verdazzo.com

Na história do futebol tivemos grandes líderes, jogadores e técnicos, com grande perfil de liderança, que moviam o time tanto taticamente quanto psicologicamente, podendo proporcionar um melhor desempenho. E essa liderança independia de grande técnica. Vide casos de Dunga, capitão do tetra em 94; Gattuso, capitão do Milan dos anos 2000 (após a aposentadoria de Maldini) ou Cafu, que apesar de ser um jogador técnico não era a maior estrela do time pentacampeão de Felipão.

Atualmente, as figuras de líderes no futebol estão um tanto quanto distorcidas. Aparentemente, o futebol, principalmente brasileiro, tenta forçar um aspecto de liderança através da virilidade comportamental. Temos, no time do Palmeiras, por exemplo, o Felipe Melo que com seu temperamento jamais colocaria a braçadeira de capitão de um time que eu treinasse. Afinal, um jogador que não dá garantias de que ficará até o final do jogo por conta de todo seu histórico violento, não pode conduzir meu time até o resultado esperado. Não basta se impor como um pitbull para ser um líder. Um jogador que não tem controle sobre seus próprios impulsos não terá controle de um elenco.

Além disso, muito se faz de forçar a liderança em um jogador, apenas por ele tecnicamente ser a estrela do time. E isso acontece na seleção brasileira, com Neymar.

O jogador, que aparentemente sofre da Síndrome de Peter Pan, ganha a braçadeira de um técnico como o Tite que com toda sua experiência deveria perceber que ele não tem perfil para tal, apesar de ser um exímio jogador quando inspirado. Até porque, a própria carreira do jogador não é conduzida por ele próprio e sim por seu pai, que define todos os rumos da sua passagem no futebol, inclusive se equivocando diversas vezes.

Ainda na seleção brasileira, em 2014 o capitão do time era Thiago Silva, que protagonizou um tremendo papelão nas oitavas de final, onde, antes do início da decisão por pênaltis contra o Chile, desabou a chorar no meio de campo, demonstrando total despreparo psicológico para enfrentar uma situação de tanta pressão.

Para ser um bom capitão, o jogador deve exercer isso na sua vida extracampo. Sócrates, ex-capitão da seleção brasileira e do Corinthians demonstrava esse perfil. Conduziu o time e o elenco numa das passagens mais históricas do futebol que é o movimento “Democracia Corintiana”, onde os rumos tomados pelo clube eram definidos pelas pessoas mais importantes dentro dele, os jogadores. Além disso, Sócrates demonstrou-se líder fora de campo, pois lutou publicamente pelo movimento “Diretas Já”, emenda proposta pelo deputado federal Dante de Oliveira em 1983, que tinha como objetivo reinstaurar as eleições diretas para presidente da República no Brasil, suspensas desde o golpe militar de 1964.

Outro fator importante para a definição de um capitão, que deveria ser levado mais em conta, é a identificação do jogador com o clube. Podemos citar, nesse caso, o italiano Francesco Totti. O jogador passou toda sua carreira na Roma e, mesmo sem vencer grandes títulos a nível internacional, tem o respeito pelas suas conquistas nacionais (são 5 títulos) além de ter sido campeão também com a seleção da Itália.

Deve-se haver uma releitura desse contexto no futebol nacional. Contamos atualmente com jogadores estrelas e mimados, que não conseguem exercer comando sobre suas próprias ações, se destemperam facilmente com adversários e juízes, além até da mídia (que raramente tem alguma culpa pelo desempenho da equipe) e que não conduzem o time de cabeça erguida. É muito mais fácil formar um time campeão se este contar com grandes lideranças.

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