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Publicado: Quarta-feira, 25 de maio de 2005

Liberdade tem preço

Percebo como é difícil o caminho da libertação. Ficamos isolados em nossas crenças, tão arraigadas em nossas memórias que escondem as brechas para o novo saber e para o novo querer. Tenho observado em mim mesma e nos outros o quanto estamos constantemente ancorados em lugares conhecidos, seguros, mas muito pouco confortáveis. Lugares que aprendemos a morar desde pequenos e que apesar de incômodos e sufocantes, teimamos em continuar. São esses espaços, onde nossa escolha habita, que nos levam para muito longe do sonho.
Fico me perguntando porquê. E chego a conclusões não muito brilhantes, até mesmo óbvias. Aceitamos morar em quartos mofados e empoeirados porque queremos ser amados e aceitos. Queremos pertencer. Queremos nos sentir dignos. Mas será que funciona? Não sei, mas tenho encontrado a minha luz justamente fora desses quartos. E olha que muitas vezes eu teimo em continuar neles, mas a vida começa a cobrar e eu fico com urgência de respirar. Aí dou uma espiadinha pela fresta da janela e vejo tantas possibilidades, até me assusto, mas parece tudo tão brilhante e possível...
O caminho da liberdade pede que a gente ouse acreditar que existem outros quartos na nossa casa, além daqueles que conhecemos e dormimos. Para encontrar essa liberdade, temos que aprender a entrar e sair desses quartos, mergulhar e emergir das profundezas, para então fazer nossas verdadeiras escolhas. Libertar é tirar o véu entre o nosso olhar e a vida, pouco a pouco, para encontrar o nosso verdadeiro lugar. O lugar onde nossa alma sorri e onde o nosso coração bate forte, como as batidas de um tambor. O nosso verdadeiro lugar não está no olhar de aprovação dos nossos pais, avós, irmãos, companheiros, amigos ou filhos. O nosso verdadeiro lugar é apenas o lugar da nossa existência. Cada um de nós nasce com o direito e com a missão de ocupar esse lugar por existência.
A escolha de desbravar esse caminho é única e exclusivamente nossa. Ninguém pode fazê-la por nós, e nesse sentido estamos sozinhos. Por outro lado, sempre podemos pedir ajuda e esse aprendizado é igualmente importante. A vida se faz em grupo e uma das mais belas formas de evoluir é encontrar companheiros de jornada que nos acolham e nos façam acreditar que somos capazes, especiais e luminosos. Pode ser que isso não aconteça dentro da nossa família. Pode ser que não seja como a gente quer. E normalmente é assim mesmo, a confiança não vem de quem a gente espera. Mas o caminho da evolução não é feito apenas de flores, embora eu continue acreditando que o jardim será sempre maior do que as trevas.
Então, chega um momento em que a gente consegue ser suficientemente lúcido para perceber o que não quer mais e inocentemente assustado para seguir em frente. É neste ponto, exatamente nesse ponto que mora a nossa escolha. É nesta encruzilhada que testamos a nossa coragem e ousadia. De um lado, o conhecido que nos ampara e seduz. Do outro lado, o desconhecido que invade e grita. De um lado o medo, o pavor, a dor. Do outro a vaga promessa do sonho de luz. Portanto, sim, a liberdade tem preço: exercer o nosso poder de escolha é o verdadeiro preço.
Olhamos no espelho e o que vemos? De quem são esses olhos que vêem? Será que são meus ou de outros que moram em mim? A quem queremos de fato agradar? Que parte do nosso ser está nos chamando e qual fala mais alto? Como ouvir? Como silenciar para escutar apenas o essencial? Vamos aprendendo, lentamente e urgentemente, a fazer nossas escolhas. E quando aprendemos que podemos escolher sempre, a cada instante, nos tornamos seres mais livres.

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