Lembranças vividas jamais serão esquecidas
Viver o presente sem se lembrar do passado é o mesmo que renegar a si próprio.
De repente, olho e levo um susto, o velho casarão onde passei minha infância e adolescência estava morrendo.
Alguns trabalhadores, sem a menor sensibilidade quebravam as paredes, transformando em cacos arrancando pedaços do meu coração.
Que dor! Neste instante as lembranças afloraram e vejo-me na casa onde morava no Bairro Padre Bento. Puxa! Parece que foi ontem!
Jardim bem cuidado, o perfume das rosas atravessando as cortinas no fim da tarde. Janelas grandes com cortinas bem engomadas, piso encerado. Tudo limpo e em ordem como queria minha mãe.
Ouço agora um som que vem do casarão. O que não faltava era música. Meu pai com seu cavaquinho influenciava a arte musical aos filhos: Pio José tocava sanfona e violão; Oswaldo, violão; Dimas, violão e teclado e eu, sanfona e violão.
Como não gostar de música quando podemos reviver no tempo os sons expressando nossos sentimentos?
Quanto movimento! Quantas alegrias vividas!
Bem perto a Estação da Estrada de Ferro Sorocabana. Nosso quintal se engalfinhava com um campinho de futebol, mais tarde Estádio Dr. Álvaro de Souza Lima. O movimento das partidas de futebol animava o bairro que tinha sempre uma população renovada.
Foi neste campinho que conheci o príncipe da minha história, namoramos um longo tempo e nos casamos. Foi aí que me afastei do velho e querido casarão. Construímos um novo endereço.
E o tempo passou... Décadas e décadas se sucederam, e de repente o casarão foi-se esvaziando... Filhos casando... Ocupava agora o saudoso casarão a figura paterna e materna que era à base de tudo isso.
Logo, como lei da vida eles também se foram. Tudo ficou silêncio.
O velho sino da Capela Padre Bento já não era mais ouvido, silenciou-se...
Vejo agora o tapume encerrando uma história e muitas vidas ali vividas.
Devagarzinho, o tempo vai nos mostrando que resta apenas uma lembrança, uma saudade.
O tempo passou as imagens permaneceram...