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Publicado: Domingo, 11 de agosto de 2019

Lacuna

Lacuna
 
 
 
Pra você, meu velho.
 
Ficou o lugar vazio acumulando pó, sem um átomo de gente que lhe tomasse assento, me sondando enquanto sondo nele o homem que ali firmou posse, de coroa e cetro, espaçoso como só. O lugar do faltante por direito, sempre dele, cadeira vitalícia que a ninguém é dado herdar. Assim está e ficará ao capricho e ao apetite dos cupins, no mesmo estado em que a deixou. Mourão de cerca socado fundo entre as dobras dos miolos, é bem na horinha da Ave-Maria que escuto o arrastar dos seus chinelos e farejo sua lavanda de após banho, tão sua e dos dias todos que meiamos, criador e criatura. Acordo com o ausente me chamando, raro é quando não sucede desse jeito. E são manhãs cinzas e mudas, que para falar a verdade nem careciam amanhecer mais depois do sucedido.

 

 


© Direitos Reservados
Ilustração: Thiago Cayres
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