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Publicado: Sexta-feira, 12 de junho de 2009

Jornalismo Intuitivo

Josué, afeito a leituras desde menino, logo abandonou os gibis e passou a ser um devorador de livros.
 
De uma inquietude sadia, buscava sempre algo mais à frente, o que o colocou em descompasso, favorável, no entanto, em face de todos os de sua idade.
Foi assim dos 8 aos 16 anos.
 
Como resultado de algo igualmente inato nele, tendeu a escrever.
 
Com facilidade, nos bancos escolares, reconhecia-se no jovem, imediatamente, a desenvoltura no manejo da pena. Manejo da pena, uma expressão de outrora, mas uma referência sabiamente aplicada aos que se distingam num estilo fluente e agradável.
 
Do jornalzinho da escola saltou de um passo para um dos semanários da cidade.
E por viver tempos “modernos”, lá foi para uma faculdade de jornalismo.
 
Diplomou-se com louvor.
 
Para melhor dizer, ratificou o quanto o instinto já lhe trazia no íntimo.
Josué, o herói de nome aqui fictício, com a formação acadêmica, quase que praticamente viu somarem-se para si técnicas e regras, que, de rigor, já conhecia na prática. Não houve, propriamente, a necessidade de assimilação de quase nada, pois, intuitivamente, a propensão para as letras era muito mais uma questão de veia.
 
Criado aí, na imaginária história do Josué, em poucas palavras, um personagem meramente ilustrativo.
 
Não labora em erro, de outro lado, quem afirme, a respeito de jovens, moços e moças, não necessariamente por meio de vocação, para as diversas áreas da vida profissional, que possam eles, mesmo assim, virem a ser médicos, engenheiros, advogados, dentistas e o que mais seja, todos de bom nível. Não teriam nascido para aquele determinado mister, mas terão condições de dar boa conta da profissão abraçada. Sem maiores problemas. Justamente porque o ensino superior supriu-lhes as possíveis lacunas, ao lhes fornecer um conhecimento específico.
 
No jornalismo, contudo, faz-se logo distinguir os seus artífices, pelo modo como se expressem. O linguajar é típico. Quase sempre autor e leitor, por distantes que estejam, vêem-se, - mesmo sem imagem! – como que sentados um na frente do outro.
 
É desse dom inato, intuitivo, espontâneo e natural que se fala aqui e agora.
 
Destes dias, num comentário do Estadão, veio a referência a um livro editado recentemente na vizinha cidade de Capivari, sobre o notável escritor, Leo Vaz
(Leonel Vaz de Barros), filho da terra.
 
Leo Vaz, a par dos poucos livros de sua autoria, como atividade principal e marcante, galgou ao mesmo tempo todos os degraus da imprensa e chegou a diretor do renomado diário paulista. Passara antes pelos cargos de redator e secretário.
 
Curiosamente, a autora dessa obra sobre Léo Vaz, uma nonagenária, fez resultar em livro, anotações e recortes recolhidos durante anos a fio. Trata-se da senhora de 93 anos, Virgínia Bastos de Mattos.
 
Esta crônica se inspira pois, percebe-se, de tal notícia do Estadão.
Eis um trecho de um dos livros, elucidativo, do próprio Leo Vaz, a corroborar que o jornalista de antanho vinha sim de dentro das velhas tipografias.
 
“(...) O cheiro da tinta de impressão e o tique taque do componedor logo me levaram à freqüência da Gazeta de Piracicaba (...)”, cita o autor em Páginas Vadias.
 
O jornalista autêntico surge por si. Naturalmente.
 
Ainda de Leo Vaz: O Professor Jeremias, O Burrico Lúcio.
 
Os livros terão nascido mais por diletantismo, talvez, sem que por isso em nada se diminua o brilho e o interessante do seu conteúdo.
Isso, para dizer apenas dos livros do escritor capivariano.
 
Sua lida diária, contudo, - e de longos anos, - foi de estreita vivência jornalística.
A “escola da vida” e a vocação espontânea o levaram a atuar como diretor do mais conspícuo dos órgãos de imprensa do país.
Jornalista por excelência.
Intuitivo.
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