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Publicado: Quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Janelas de oportunidades

Janelas de oportunidades
As oportunidades dependem da boa educação

Não faz muito tempo que a ONU definiu o Brasil como o país que se encontra na posição das janelas de oportunidades. Essa constatação se dá, entre outras características, pelo fato de que o país conseguiu em seus últimos anos diminuir a taxa de natalidade, oferecendo assim aos brasileiros a possibilidade de um planejamento econômico. A ONU ressalva ainda que o momento é único na história do desenvolvimento econômico e para que possamos  aproveitá-lo intensamente, precisamos, por meio das políticas públicas, investir na qualidade da educação escolar.

Mais uma vez a tese de que é a educação escolar uma das únicas, senão a única, via de acesso ao desenvolvimento social se ratifica entre os meios de comunicação. E ecoa na sociedade como um grito de desespero: já não dá mais para adiar a transformação das escolas brasileiras em excelência de aprendizagem.

“Aprender é deixar-se surpreender pelo já conhecido”, afirma Alicia Fernández, reconhecida Psicopedagoga argentina, ao debater o significado da aprendizagem e a coleção de fracassos encontrada nas escolas incapazes de garantir no seu trabalho a educação centrada na aprendizagem.

O que pode garantir nas ações escolares o “surpreender-se pelo já conhecido?” O que Alicia quer dizer com a escolha da palavra “surpreender-se” para definir aprendizado?

Ao tentar responder as questões acima, devemos ressaltar que as ações desenvolvidas nas escolas se dão pelas práticas dos profissionais que nelas se encontram. Isso remete à compreensão lógica de que só é possível garantir aos alunos uma educação centrada na aprendizagem passando pela competência técnica dos professores. 

Por isso, ainda que as palavras a seguir possam “mexer na ferida”, é necessário denunciar a despreparação dos professores, sobretudo dos especialistas, que se apóiam em crenças e mitos ultrapassados.

Acreditar que “a culpa pelo baixo desempenho escolar é sempre e tão somente do aluno”, ou que “a reprovação faz bem ao processo do aprendizado” e, mais ainda, que “a qualidade do ensino diminui quando todos os alunos são promovidos”, são verdades tatuadas no coração da maioria dos professores brasileiros.

Recentemente coletei um relato curioso de uma adolescente. A história pode até nos enganar, mas analisada com critério se torna lamentável. O caso se refere a uma prova de matemática, onde 29 dos 37 alunos receberam nota inferior a média e que para “ajudar” a professora agendou uma nova data de prova, sem nenhuma aula extra, alertando aos alunos que, então, de fato estudassem.  

Pergunto: a nota baixa é diagnóstico de falta de estudo ou de não aprendizado? Que estudo esses alunos podem fazer se lhes falta o aprendizado? Por que o diagnóstico, pela grande parcela de notas baixas, concentra-se exclusivamente na falta de estudo e não na forma como o conteúdo foi trabalhado? Sim, porque se assim fosse considerado, pelo menos uma única aula faria parte da estratégia dessa professora, que, aliás, está repleta de boa intenção, mas mergulhada em crenças e mitos ultrapassados.

A Professora Thereza Penna Firme, PhD e consultora em avaliação, conta o caso de um menino repetente da sétima séria, que ao chegar ao final do ano, aguardando os resultados sobre sua promoção, sonhou que todos os seus colegas, da oitava série, repetiram o ano para lhe esperar.    

Romper com esse paradigma não é exercício fácil. Nem tão pouco rápido. Mas “valeria a pena escutar os sonhos das crianças e dos jovens, as queixas e as justas cobranças.”

Há décadas a ciência vem somando contribuições necessárias para que o “surpreender-se” de Alicia Fernández possa elevar o desempenho das nossas escolas. Surpreender-se faz alusão ao sabor do saber; quer dizer daquele aprendizado que toca o aluno e lhe proporciona motivação. Quando o saber faz sentido, alcança a mente e produz o espetáculo da inteligência.

A obrigatoriedade da Psicopedagogia na formação dos professores de Matemática, Física, Química e outras mais especialidades, talvez fosse um bom começo.  Aprender a olhar as pessoas e humanizar a relação do aprendizado é o caminho desejável aos profissionais da educação que desejam seguir o conselho da ONU e fazer das janelas de oportunidades a grande porta para o desenvolvimento de uma sociedade sedenta por evoluir!

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