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Publicado: Quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Infância!

“Oh! que saudades que tenho, da aurora da minha vida, da minha infância querida, que os anos não trazem mais!”
                                                                                   Casimiro de Abreu
 
INFÂNCIA - Palavra de uma sonoridade infinita que embriaga os ouvidos como se poesia fosse. Sempre que é pronunciada provoca um sorriso maroto nos lábios de quem a ouve. Quem não guarda, no baú de suas recordações, doces lembranças da infância? Quando falamos em infância, sempre temos uma história deliciosa para contar. Mesmo as maiores travessuras, aquelas que chegaram a tirar a nossa mãe do sério, hoje se tornaram pérolas que guardamos em nosso coração como jóias raras.
 
Bons tempos aqueles em que brincávamos com bolinhas de gude na rua de terra. Ao final do dia voltávamos para casa com os bolsos pesados, cheios de bolinhas de vidro, fruto das partidas ganhas e na mão, para poder contemplar a todo o momento, aquela bolinha especial, tão “cobiçada”, com três listras coloridas, prêmio obtido pelo melhor desempenho na partida.
 
E pular amarelinha! Era divertido desde o momento de procurar um pedaço de tijolo para desenhá-la na calçada. Precisava ter muita noção espacial para não deixar uma casa maior que a outra. Era sempre a mais velha da turma quem desenhava. E a pontaria! Era preciso muita concentração para mirar e acertar na casa da vez. Equilíbrio então!! Ficar num pé só, abaixar-se para pegar a pedrinha e voltar sem colocar o outro pé no chão, era uma missão e tanto.
Lembro-me com muitas saudades do “jogo da ordem” em que eu atirava a bola contra a parede e ia recitando: ordem, sem lugar, sem rir, sem... (falar), um dos pés, o outro, uma das mãos, ..... e ia fazendo os gestos pedidos pela música no tempo da bola bater na parede e voltar. Se a bola caísse no chão, eu perdia a vez (é obvio).
 
Nos dias de chuva brincávamos de cama de gato, jogo da velha, três marias.... Passávamos o dia todo entretidos com estas brincadeiras. Riamos muito, corríamos até perder o fôlego, pulávamos, cantávamos, tudo ao som estridente das vozes infantis.                                                                                         
 
Quando a tarde chegava, tomava banho e me sentava diante da TV para assistir desenho animado. Era o Pica-pau fazendo das suas, o Plic e o Ploc enganando o Chuvisco, o Tom e o Jerry que nunca se entendiam. Depois dos desenhos vinha o episódio dos Três Patetas, como eu ria das palhaçadas deles.
 
Também havia o seriado do Zorro. Este ativava muito a minha imaginação. Eu amarrava um lençol no pescoço e colocava a meia preta do meu pai sobre os olhos, deixando uma fresta para poder enxergar e pulava de cima do sofá para o chão empunhando numa das mãos, como se fosse uma espada, a colher de pau da minha mãe.
 
Era uma delícia!
Depois jantava e às nove horas da noite, quando começava a tocar na TV a música dos cobertores Parahyba “Tá na hora de dormir, não espere a mamãe mandar...” eu tinha que dar boa-noite rapidinho e ir para o meu quarto dormir, caso contrário no dia seguinte ficava sem assistir televisão. Eu sabia que daquele horário em diante era só programa de adulto, então, como eu ainda era criança, não podia assistir.
 
É uma pena que as crianças de hoje não possam usufruir dessas delícias, primeiro em razão do progresso, brincar na rua nem pensar, o trânsito é imenso e a falta de segurança é outro fator crucial. Temos também que concordar que hoje os tempos são outro, a tecnologia é outra, os tipos de brinquedos são outros, só que isto está acabando com o espírito infantil.
 
No tempo citado acima não havia variedade de brinquedos, mas o que havia em grande quantidade era a imaginação, a fantasia, a criatividade. Hoje, o consumismo tomou o lugar do brincar. A criança quer muito um determinado brinquedo, logo após ganhá-lo já começa a pedir outro. Quando a criança vai à casa de um amiguinho para brincar e leva um brinquedo novo – o brinquedo que a criança carrega consigo é sempre “o novo” pois o que ele ganhou ontem “é velho” e não tem mais importância - ela o fica segurando todo o tempo. Não brinca com ele, não o empresta, apenas o exibe.
 
Com relação às meninas, fazem uma verdadeira coleção de bonecas da moda. É uma boneca com roupa de praia, outra com a roupa que vai esquiar, a com roupa para ir ao supermercado, a com roupa de festa e assim vai. E mesmo tendo todas estas bonecas, ela ainda não se sente satisfeita, pois sua amiguinha tem uma com um modelo que ela ainda não tem, então ela vai pedir este outro modelo, incessantemente, até conseguir. 
 
Agora me responda, elas brincam com as bonecas? Não! Elas apenas as exibem e comentam que vão ganhar mais esta ou aquela. Este tipo de comportamento roubou o prazer do brincar, do faz de conta. O que existe agora é o adquirir, o competir, a satisfação relâmpago do TER. A criança de hoje não conversa mais com seus bichinhos, não sabe brincar sozinha, não se entretem com nada!
 
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