Hidropônicos e orgânicos são a mesma coisa?
Embora a hidroponia e o cultivo orgânicos sejam ambos métodos “alternativos” em relação à agricultura convencional, são sistemas de plantio – especialmente de verduras, legumes e poucas frutas, como morangos – completamente diferentes, e somente o plantio orgânico é aquele feito sem agrotóxicos.
A hidroponia é uma técnica de cultivo em água, no qual as plantas crescem dentro de uma canaleta (por exemplo canos de PVC cortados ao meio) através do qual circula uma solução nutritiva equilibrada (água + nutrientes). Como em todo o sistema é artificial, tudo tem de ser milimetricamente balanceado. As plantas crescem em estufas, isto é em ambiente controlado, o que diminui a necessidade do uso de herbicidas, fungicidas e outros defensivos agrícolas, mas não a elimina. Como se fornece às plantas boas condições de desenvolvimento não ocorre competição por nutrientes e água, fazendo com que as raízes cresçam mais rápido e o ponto de colheita seja antecipado. Além disto as plantas ficam “limpas”, sem resquícios de terra ou bichinhos, e são colhidas com as raízes, o que supostamente aumenta sua durabilidade na geladeira.
Já os orgânicos são cultivados no solo sem o uso de agrotóxicos nem adubação química. Como adubo, usa-se somente composto orgânico (vegetais decompostos e esterco compostado). Para controle de pragas, usa-se os fitossanitários (defensivos à base de elementos naturais), o controle biológico - como, por exemplo, um predador natural contra determinada praga, e a rotação de culturas. Visto que o crescimento dos vegetais não é forçado por nenhum adubo químico, eles crescem mais devagar e acumulam menos água, tornando-se mais saborosos e nutritivos.
Qual é, então, a alternativa mais saudável? Segundo pesquisas recentes, não há dúvida que são os orgânicos. Frutas e vegetais orgânicos possuem, em relação aos seus similares não-orgânicos, até 40% mais antioxidantes, substâncias relacionadas à diminuição dos riscos de câncer e de doenças cardiovasculares - é o que constatou pesquisa ainda em andamento da Universidade de Newcastle, no Reino Unido.
Já na hidroponia, eventuais excessos de nutrientes ou impurezas na solução nutritiva podem se acumular nos tecidos vegetais. Pesquisa recente conclui que o teor de nitrato nas folhas de alface é maior no cultivo hidropônico que no convencional, sendo que o cultivo orgânico apresenta a menor taxa de concentração de nitrato.
A pesquisa conduzida por pesquisadores do IAPAR (MIYAZAWA et. al., 2001) mostra que alfaces cultivadas em sistema hidropônico apresentam um teor de nitrato extremamente elevado: 70% das amostras tinham entre 6.000 a 12.000 mg/kg. No organismo humano, o nitrato ingerido passa à corrente sangüínea podendo reduzir-se a nitritos que são ainda mais venenosos. Quando combinados com aminas, formam as nitrosaminas, substâncias cancerígenas, mutagênicas e teratogênicas. De acordo com a FAO, o índice de máxima ingestão diária admissível de nitrato é de 5 mg/kg de peso vivo, e 0,2 mg/kg para o nitrato. A ingestão admissível para uma pessoa de 70 kg seria de 350 mg de nitrato por dia. Assim, se considerarmos que quatro cabeças de alface pesam aproximadamente 1 kg e tem em média 160 folhas, conclui-se que uma pessoa de 70 kg comendo entre 4 e 9 folhas de alface hidropônica por dia, já estará atingindo a dose diária máxima de nitrato permitida. Esta mesma pessoa poderia comer em média mais de 50 folhas de alface produzida no sistema orgânico, para atingir o mesmo nível de nitrato.
E do ponto de vista ambiental, qual é a melhor opção? Novamente os orgânicos levam grande vantagem, pois a compostagem produz menos CO2 do que a produção de adubos químicos, não se usa água tratada para a irrigação e a saúde da terra e dos insetos polinizadores (abelhas, vespas, borboletas) é preservada. Já a hidroponia depende de alto consumo de água, pois as canaletas têm de ser higienizadas com freqüência, e de energia, pois o sistema de alimentação das plantas é constantemente monitorado por equipamentos. Além disso, eventuais restos de adubos químicos são poluentes e o uso de defensivos/agrotóxicos não é evitado.