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Publicado: Segunda-feira, 2 de julho de 2012

FGV: Queda na inadimplência deverá ser lenta

Crédito: FF Consult FGV: Queda na inadimplência deverá ser lenta

Segundo dados divulgado pela FGV, com maior poder de compra adquirido nos últimos anos, devido, principalmente, à melhora na economia e no nível de emprego, o brasileiro tem se endividado mais. Porém, pela facilidade do crédito obtida através de medidas favoráveis do governo — IPI reduzido para bens duráveis, por exemplo —, o consumidor se descontrolou no orçamento e não está conseguindo pagar o que vem comprando. Segundo o Banco Central, a taxa de inadimplência das famílias (atrasos superiores a 90 dias), em maio, chegou a 8% — patamar não visto desde 2009.

No cartão de crédito, o calote é ainda maior: passou de 24,2% para 29,5%, desde dezembro de 2010 para cá. Silvia Matos, pesquisadora da área de Economia Aplicada ressalta que “a deterioração recente da carteira de crédito do sistema financeiro nacional se deve, em grande medida, às operações destinadas à aquisição de veículos”. “Desde o fim de 2010, a taxa de inadimplência desta categoria praticamente triplicou, passando de 2,5% (dez/2010) para 6,1% em maio desse ano”, comenta Silvia.

A economista acredita que deve haver uma suavização desse nível de inadimplência num médio prazo, já que a taxa de juros (Selic) tem registrado sucessivas quedas. Assim, com juros mais baixos, o consumidor pode ter mais facilidade de quitar ou renegociar suas dívidas. “Por um lado as taxas de juros dos empréstimos estão caindo (a taxa de juro média para Pessoa Física recuou 3 pontos percentuais, de 41,8% a.a. para 38,8% a.a., maior queda desde o final de 2008). Implícito neste cenário, é que não ocorrerá uma deterioração no mercado de trabalho, ou seja, que haverá uma aceleração da economia ao longo do segundo semestre. No entanto, a queda da inadimplência deverá ser lenta e bem gradual”, pondera.

O alto nível de falta de pagamento das contas traz cautela aos bancos, e, em conseqüência disso, faz com que as famílias, sem opção, tomem créditos mais caros, como cheque especial e cartão de crédito. “O que os dados mais recentes apontam é que não apenas há uma melhora nas taxas, mas também um aumento moderado nas concessões de crédito de outras modalidades e um recuo nas de cartões e cheque especial, o que é um bom sinal”, completa.

Outro fato que pode agravar esse cenário e pressionar ainda mais o mercado de crédito é a forte elevação do crédito consignado. Somente em maio, as financeiras emprestaram R$ 9,5 milhões com desconto na folha de pagamento. “Sabemos que o valor total do crédito na economia continua crescendo (hoje, já chega a 50% do PIB), mas as concessões para pessoas jurídicas estão crescendo mais quando comparamos às pessoas físicas, o que é favorável”, diz Silvia. E completa: “Não devemos esperar um crescimento muito acentuado do crédito para pessoa física, até porque as famílias ainda estão muito endividadas. Não é um momento para os exageros do passado”.

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