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Publicado: Sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Eutanásia ou Suicídio Assistido?

Recentemente Cláudia Meirelles, nossa colega colunista do Itu.com.br, publicou artigo versando sobre os dilemas em torno da eutanásia. É preciso coragem para tocar em um assunto como esse, que gera tanta polêmica quanto o aborto e temas ligados à sexualidade.
 
Ao mesmo tempo que a parabenizo pela iniciativa, aproveito para também abordar a questão, que esteve em voga durante todo o ano de 2008 por conta da Campanha da Fraternidade sobre a defesa da vida humana. Embora muitos mais debates tivessem por objetivo discutir o tema do aborto e suas variantes, a eutanásia também fez partes das reflexões da Igreja no Brasil durante o período.
 
Antes de tudo, é preciso deixar de lado radicalidades e más-vontades. Com infantilidades não se discute nada seriamente. Convicções são inerentes ao ser humano e devem ser encaradas como um direito do livre exercício de pensar. Criar convicções apenas para servir de ponto de discordância ou para fazer birra, é perda de tempo e de tutano. Isto posto, seguem algumas reflexões pessoais sobre assunto tão controverso.
 
Na minha opinião faz-se muita confusão sobre o termo “eutanásia”, que vem do grego e significa “boa morte”. Imagine que alguém descobre ter um tipo incurável de câncer. E que então decida não fazer tratamento com radioterapia ou quimioterapia, pois sabemos que o próprio tratamento causa incômodos e dores ao doente.
 
O doente em questão resolve deixar que o câncer evolua, para que possa morrer naturalmente. A eutanásia seria, nos momentos mais graves da doença, dar suporte médico e psicológico nos últimos momentos de vida da pessoa. Assim teria uma “boa morte” e morte digna. Do ponto de vista espiritual, o doente aceitaria o seu estado de saúde e ficaria aguardando o momento de partir rumo à vida eterna.
 
Agora imagine que alguém descobre ter um tipo curável de câncer. Porém, o tratamento o deixará incapaz de andar ou de se mover. Ou seja: há chance de vida, mesmo com a perda de movimentos. Então o doente resolve não se tratar, achando que não vale viver preso a um leito anos a fio. Pessoalmente, acho que isso não seria eutanásia, mas suicídio disfarçado. Uma vez que a pessoa tem a opção de viver, não importa em qual situação, a vida sempre será o caminho correto a perseguir.
 
Na Antiguidade, o valor da vida humana tinha outro contexto. A média de vida era de 40 ou 50 anos. Poucos passavam dos 65 anos de idade. Também matavam crianças nascidas com defeito. Hoje os brâmanes, espartanos e celtas não estão mais entre nós. A humanidade evoluiu e adquiriu novos valores, inclusive sobre a vida humana. Não se tolera mais o assassinato de crianças com defeitos físicos ou mentais. Do mesmo modo que valorizamos a vida durante a chamada “terceira idade”.
 
Na eutanásia, assim como no aborto, a raiz do problema é o mesmo. As distorções surgem quando o ser humano, movido pelo interesse egoísta, deseja mudar tudo a seu favor. O aborto é um mecanismo usado pela natureza. Quantas mães, infelizmente, abortam naturalmente? Mas vem o ser humano e transforma o aborto e um cômodo instrumento de seu egoísmo. Morrer de modo natural e com dignidade é um direito e um privilégio. Mas vem o ser humano e transforma a eutanásia em “suicídio assistido”.
 
Enfim, todos iremos morrer um dia. Mas o assunto da eutanásia, pelo jeito, ficará em debate por muito tempo. No fundo não se trata de um dilema bioético, religioso ou de política pública. É uma questão de ser honesto e de não distorcer o modo de como as coisas são. Importante é que, com mentes e corações abertos, possamos sempre tocar no assunto sem desejar a eutanásia de ninguém.
 
Amém.
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