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Publicado: Terça-feira, 9 de maio de 2017

Eu não estou interessado na sua teoria

Eu não estou interessado na sua teoria

“A morte não é o fim, mas o começo de uma nova vida. Sim, é um fim de algo que já está morto. É também um crescendo do que chamamos vida, embora muito poucos saibam o que a vida é. Eles vivem, mas vivem em tal ignorância que nunca encontram sua própria vida. E é impossível para essas pessoas conhecerem sua própria morte, porque a morte é a derradeira experiência desta vida, e a experiência inicial de outra. A morte é a porta entre duas vidas; uma é deixada para trás, outra está esperando adiante.”

Essas são as palavras de Osho sobre a morte, cujas eu corroboro.

No dia 30/04, perdemos (fisicamente) neste mundo uma das maiores mentes brasileiras, Belchior. Um homem de 70 anos que há 40 lançou um conjunto de canções que traduziria tranquilamente o pensamento e o anseio de toda a juventude atual. O disco “Alucinação” trazia consigo letras que falavam sobre o que é sofrer a repressão, a vontade de viver, a quebra de normas convencionais. E para contribuir com o significado destas composições, a voz do cearense que chegava a soar até enjoativa para os ouvidos mais acostumados com coisas fáceis, bradava os hinos.

Hinos regravados e eternizados por outros artistas, que tiveram até mais alcance que o próprio autor, caso de “Como nossos pais”, interpretado também por Elis Regina.

“Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais” – Sim, querendo ou não, você vai pensar no que aconteceu há alguns anos através de militares e o que aconteceu recentemente, de maneiras até mais sujas, apesar de menos violentas.

“Já tenho esse peso que me fere as costas e não vou eu mesmo atar minhas mãos” - Para expressar todo esse anseio de descobrir o que é a vida, com uma atitude além da arte, mas imensamente filosófica, Belchior, sem arquitetar, fugiu com sua mulher para o mundo. Viveu escondido dos holofotes, longe dos palcos, contemplou e existiu. Talvez essa atitude, que pode até ser julgada de maneira ofensiva (afinal, ele deixou para trás bens, dívidas e até mesmo filhos) tenha o eternizado. Mas essa é a vontade de muitas pessoas, apesar de triste, que a vida tenha virado uma eterna tentativa de fuga. A obrigação de acordar às vezes punge de maneira muito árdua e a resistência é louvável, certamente. Mas a coragem de fugir é divina.

“Meu bem, o meu lugar é onde você quer que ele seja, não quero o que a cabeça pensa, eu quero o que a alma deseja, arco-íris, anjo rebelde, eu quero o corpo, tenho pressa de viver” –  O coração é selvagem e o desejo magnífico. Não se pode acreditar que tenhamos perdido Belchior. Ele será eternizado por sua arte, sua mensagem.

A expressão da arte é maior do que qualquer função biológica que o ser humano pode exercer.

Ouça e descubra o som de Belchior.

Contemple e descubra a vida. Arquitete sua própria fuga.

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