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Publicado: Quinta-feira, 9 de junho de 2011

Estripulias do idioma

Poucas excpressões seriam tão comuns, como a de dizer-se “noção exata”.

O vocábulo “noção”, por si, no seu significado essencial, quer muito mais passar a idéia de indefinição.

Tenho alguma noção sobre a área de finanças, diga-se por exemplo. Entende-se que se sabe algo sobre essa área do conhecimento.

Permite-se inclusive afirmar que apenas se tem noção de determinada matéria, para dar a entender que não se é totalmente leigo naquilo.  Mas não intui domínio sobre o assunto.

Já – noção exata – é formular uma expressão com o uso de duas palavras que, no fundo, têm significados contraditórios. A primeira explicita conhecimento parcial, enquanto a segunda qualifica o que seja taxativo e definitivo, certeza enfim.

O termo cidadania vagueia por aí a esmo e a qualquer título, a despeito de seu sentido e finalidade, que também acaba deturpado. A cidadania, quase que num primeiro plano, se constata, se cultiva e se preserva, a partir justamente do apreço que um povo demonstre sobre a língua falada no seu país.

A pureza e a busca incessante de que todos aprimorem o seu linguajar, passa longe, longe dos anelos até de círculos e pessoas de influência.

Veja-se inclusive que é ampla e aceita sem rebuços a sistemática da invencionice. Usa-se e se abusa – olha aí outro caso! – da palavra “contação” para significar a elogiável iniciativa de contar histórias até em praça pública: contação de história. Nos primeiros ensaios dessa nova modalidade, muito útil e oportuna, falava-se dos “contadores de história”, um meio bem mais palatável de referência a essa prática.

O termo “causo”, jura-se que em tempos outros não encontrava guarida na linguagem escorreita. O próprio Aurélio acabou por curvar-se à ousada novidade. Ocorrência similar ao surgimento e consagração de “estória” como variante (infame) de “história”.

Ainda no plano de invencionices que se impõem, veio esta, perdoem, fruto de pura ignorância. Nos anos cinquenta e até os sessenta aproximadamente, principalmente e exatamente no ensino do grego clássico, já no começo para se anunciar o respectivo alfabeto, falava-se que ele se compreendia entre o alfa e o omega. Sim, exatamente: omega. Não se sabe porque, provavelmente pela falta de cultura de alguém em rádio e mais acentuadamente na televisão, ao dize-la erraadamente, num deslize, terá dito “ômega”. Incautos, ao depois, num mero processo de imitação, consagraram o modo usual de agora: ômega!

Caso idêntico da pronúncia do vocábulo “xerox”, que sequer é da língua portuguesa. De repente, sem mais porquês, alguém começou a falar “xérox”, e a sílaba tônica mudou de lugar.

Bem, se isoladamente, por desavisos daqui e dali, se cometem e se implantam impropriedades na língua portuguesa, a partir de hoje, que se unam os brasileiros, pelo menos na execração da idiotice sem tamanho e inacreditável de lançar-se a cartilha do MEC, a conceder o uso (ou abuso, na verdade) do “nois vai”, “meio que” e daí por diante.

A mais inominável das aberrações.

Parece mentira.

Estripulias do idioma.

Travessura e embrulhada.

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