Colunistas

Publicado: Sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Estamos formando árvores ou gramas?

Crédito: Cybele Meyer Estamos formando árvores ou gramas?

Céu azul, claro, diáfano, transluzente, sem uma única, mesmo que pequena, branca nuvem, desfazendo qualquer expectativa de possibilidade de chuva. Este cenário se repetiu dia após dia, semana após semana, nos últimos tempos, tendo sido registrado como o maior período de estiagem dos últimos 90 anos aqui na minha cidade, Indaiatuba.

Olhar para os jardins das praças, do Parque Ecológico e constatar a grama cor de palha, ali quase sem vida, inerte, em dormência vegetativa à espera de alguns pingos de chuva que lhe animem e devolvam a coloração verde, me fez refletir sobre alguns aspectos.

Percebi que em contrapartida, nos mesmos jardins das praças e do Parque Ecológico as árvores ali dispostas, aleatoriamente, permanecem firmes, eretas, com suas raízes agarradas ao solo, determinadas na busca da seiva que lhe garanta a vida. A estiagem também lhes afeta a calma rotina, mas não de maneira enérgica como o faz com a grama.

A grama, normalmente plantada em placas, é disposta sobre o local escolhido, e lá aguardam, todas as sementes germinadas, juntas, que lhe venham regar. Elas vivem em grupo, porém não trabalham em grupo, pois todas somente ficam à espera que tudo o que precisam lhes caia do céu.

Sim, a grama se alimenta do adubo da terra, porém só superficialmente. Se não for adubada de tempos em tempos ela ficará fraca. Ela não se aprofunda em busca de alimentos. Ela carece de iniciativa alheia. Se tratada, aguada, adubada, podada responde positivamente e nos brinda com seu tapete verde. Porém, se não recebe tratamento e se a estiagem for grande, fica seca, esturricada e perde a coloração. Nada faz, apenas aguarda, na inércia, que a chuva lhe devolva a cor e o viço.

Quando plantada em semente ela não precisa estar mais do que meio centímetro abaixo da terra. Ela não precisa de grande esforço para germinar. Suas raízes não se aprofundam mais do que dez centímetros.

Já a árvore, desde semente, está só. Vive a relação entre ela e a terra. Rompe sua casca e mesmo sob o peso da terra emerge sempre avante.  A chuva, o vento, o Sol, fontes de vida, também podem lhe prejudicar quando em demasia ou em escassez. Mas ela resiste bravamente e continua o seu crescimento incessante, sempre para o alto, sempre resiliente.

Enquanto isso a grama aguarda que o estímulo para o seu desenvolvimento venha do outro. Tão logo caiam alguns pingos de chuva, estes já atuam como incentivo para que reaja e fique verde. Quanto mais chuva mais verde fica, e mais cresce. Porém, se a chuva for escassa, em breve a grama estará sem cor novamente à espera de novos pingos, de novos incitamentos.

Arrisco comparar o comportamento da grama ao de algumas pessoas que agem de forma muito semelhante. São indivíduos que vivem superficialmente. Não se interessam por novas práticas, vivem sua rotina diária na mesmice totalmente provável e controlável. Quando, por ventura, algum imprevisto acontece, ficam imóveis, inertes, sem cor, à espera que a ajuda venha do outro, não concebendo se virá por orientação, por determinação, ou por ação. O que importa é que o outro se manifeste determinando como proceder ou mesmo resolva o problema entregando o terreno “aguado” para que possam recuperar a cor e continuarem crescendo de forma tranquila e sossegada.

Já as pessoas árvores encaram a estiagem como encorajamento para desenvolverem habilidades como determinação, garra, criatividade fomentando seu potencial para buscarem novas fontes de seiva para se alimentarem e se desenvolverem de forma plena. Este exercício propicia que suas raízes penetrem, cada vez mais fundo, dando sustentação e segurança para que possam se erguer cada vez mais alto, ficando cada vez mais frondosas.

Será justamente a determinação diante da dificuldade que propiciará o crescer. Esse protagonismo fortalecerá a autoestima, a autoconfiança, a iniciativa, a perseverança, a responsabilidade.

A grama estará sempre verde enquanto a chuva cair ou alguém lhe regar. Se a chuva faltar e se ninguém a molhar, ela morrerá sem ter tentado uma única possibilidade de vencer o desafio.

Aquela criança ou aquele jovem, que tem tudo ao seu alcance, que tem todas as suas vontades satisfeitas, que não precisa vencer nenhum desafio pois está completamente protegido por seus pais ou criadores, quando adulto se tornar, não terá iniciativa e ficará inerte, em dormência vegetativa à espera de alguém que lhe venha aguar.

Aquela criança ou aquele jovem que sempre foi instigado a desenvolver habilidades, competências cognitivas e não cognitivas, que aprendeu a controlar seus impulsos, a administrar suas emoções e a organizar seus pensamentos mantendo sempre o foco, estará apto a superar qualquer desafio, pois terá combustível para perseverar diante das dificuldades.

E agora pergunto: Você é grama ou árvore?

Você educa seu filho para ser grama ou para ser árvore?

Compartilhe suas reflexões.

Comentários