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Publicado: Quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Esse estranho país chamado Alemanha

      Desembarquei do trem em Essen, noroeste da Alemanha, vindo de Texel, as ilhas da Holanda do Norte, onde passara uns dias com a família.
 Uma preocupação tomou conta dos meus pensamentos. Visitar uma cidade alemã, com sua cultura, costumes, leis e regras impõe certa disciplina e cuidado, especialmente porque eu não era um turista ocasional e não falava o idioma do país, valendo-me do inglês para me comunicar.
      Um brasileiro acostumado à bagunça tupiniquim corria o risco de fazer uma besteira ou, no mínimo, pagar um grande mico. Como eu deveria me comportar? Que regras deveria observar? O que seria proibido? Definitivamente, eu queria me comportar de acordo com os costumes do país, ainda mais convivendo com uma família alemã.
      Ao descer do trem, que chegou rigorosamente no horário, observei que as estações não tem portas nem catracas, o acesso é livre aos trens. Um terminal eletrônico é usado para comprar as passagens com o aplicativo do celular ou cartão de crédito. Não há bilhetes impressos, a menos que você os queira imprimir. Ou seja, qualquer pessoa pode embarcar tenha ou não comprado a passagem. Um fiscal aparece de vez em quando conferindo os bilhetes eletrônicos.
Se fosse no Brasil, a empresa de trens já teria falido, pois muita gente tentaria viajar de graça. E ainda mais, o passageiro desonesto nem teria catraca para pular.
E soube depois que os alemães pagam a passagem por que querem que o serviço continue sendo prestado eficientemente.
      A caminho de casa passamos por um túnel no qual não encontrei nenhum mendigo acampado. Muito estranho. E as paredes e o piso estavam pintados e limpos.
      Nas ruas, passeando, até que tentei mostrar educação e recolher algum lixo, porém nada encontrei.
      Ao atravessar uma rua havia um semáforo com luz vermelha para os pedestres e nenhum carro á vista em nenhuma direção. E lá estavam as pessoas pacientemente esperando abrir o sinal para atravessar. Achei melhor refrear meu impulso e seguir o grupo.
      No fim de semana fomos a um parque às margens do rio Rhur, que no passado foi o canal da intensa poluição gerada pelas indústrias de aço e carvão. Diante de uma caneca de chope Radelberger, observei as águas do Rhur por longos minutos. Esperava ver passar um cachorro morto, um sofá velho, algum pneu boiando, mas nada. Apenas crianças e jovens brincando na água, remando e se divertindo. Quase esqueci o velho e sujo Tietê.
      No edifício onde passei os dias de férias nem sinal do zelador nem dos porteiros. E tudo limpo e funcionando, como se uma grande equipe trabalhasse na manutenção. Concluí que a automação do prédio somada aos cuidados dos moradores dispensava a mão de obra. O nosso Severino não encontraria emprego nesse país estranho.
      Depois de ver tanta coisa estranha, tanto respeito às leis e costumes sadios, resolvi perguntar a um alemão o que os leva a cumprir as regras com tanta rigidez. Mas ele não entendeu nem a pergunta nem o motivo de alguém questionar um comportamento que faz parte da essência do caráter de um povo.

 

 

 

 


 

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