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Publicado: Sábado, 28 de novembro de 2015

Enfim, o "mea culpa"

Enfim, o "mea culpa"

Não me pejo de que tenha permanecido contrário às bombásticas (e por isso mesmo inócuas) passeatas levadas a efeito nas capitais e no interior. Virou moda.

Mesmo no meio das relações sociais e inclusive nas familiares, esse posicionamento meu pode ter transparecido sob o ledo engano de que não seria eu favorável ao impeachment, ou seja, o impedimento e consequente deposição de cargo.

Era evidente que noventa por cento dos componentes das ditas marchas sequer saberia dizer com certeza as razões, causas e motivos para tanto, tal como se, efetivada a deposição da mandatária, no dia seguinte este país viesse a se integrar ao bloco das nações mais prósperas do planeta. Tanto naqueles dias mais quentes do alvoroço nacional, quem assumisse ou quem ainda venha assumir a presidência, milagres não fará. O pouco entusiasmo do Vice, prudente e experiente, tinha e tem consciência de que não será nada agradável segurar uma bomba na mão.

A causa muito maior e inconfundível da queda do país são, num conglomerado compacto, os senhores políticos, cujos desmandos e assaques ao erário se agigantaram na surdina. Agora, um caos sem remédio.

No fundo, um impasse. Mantidas as normais constitucionais, pelo menos não há escape para golpes, desgraça já experimentada e de sabor comprovadamente azedo. Embora, mesmo assim, vozes isoladas, ainda invoquem aquele expediente erradio e mal sucedido.

Somem-se os ocupantes das casas que compõem o Congresso Nacional e, um a um, selecione os nomes impolutos, inatacáveis, limpos e patriotas no puro significado da palavra. Se quiser, até interrompa um pouco esta leitura e faça essa lista. Mas, para erigir esse elenco, esqueça interesses imediatos seus de eleitor, ignore tendências e mire-se apenas no que seria bom para o Brasil.

Se foi feita a lista ou deixou de ser relacionado esse pessoal acomodado no poder, saiba também que num levantamento internacional de gastos com o exercício de cargo político em diversos países, o Brasil aparece em primeiríssimo lugar, com o notável escore de dez milhões anuais para cada deputado ou senador. Nenhuma outra democracia gasta tanto. Há uma segunda colocada, país de primeiro mundo, com menos da metade de tudo isso. Outras mais, de ainda menor dispêndio. Sem ter neste instante a relação em mãos, ainda me recordo, salvo engano, de que a Espanha despenderia três milhões e a Argentina, nem isso.

A gritaria da plebe ignara é, portanto, tresloucada e vazia de sentido.

Eis, a seguir, a comprovação de todo o exórdio que se produziu até este ponto da presente crônica. Sim, um preâmbulo extenso para só aí, entrar no fulcro da questão.

Também, no mesmo sentido, feita pois a explicação de qual matéria tenha inspirado o título de “mea culpa”.

Representa até um gesto de humildade, embora decorrente do malogro do seu alarde anterior, o fato de que o PSDB, com rara espontaneida, após convenção do Partido, tenha mudado de rota.

Em manifesto recente, o PSDB se penitenciou e quer tirar de si seja ele um movimento favorável ao simples golpismo. Confessa que por isso mesmo quer “mudar” a impressão (embora antes uma real tentativa) de que o seu Presidente não aceitara ter perdido a eleição, bem como por consequência que o cerne de suas gestões tenha se concentrado no impedimento da Presidente e, acima de tudo e especialmente, reconhecer que essa estratégia fora um erro.

Erro ainda pior de quando, lamenta o PSDB, na perseguição do mesmo intento, chegara a aliar-se ao Presidente da Câmara, como moeda de troca para a consecução do impedimento.

Para apagar toda essa nódoa, o PSDB resolveu defender uma nova linha de ação, consequente, através de um plano vasto de quais caminhos, a seu critério, poderiam levar a Nação a reverter a crise.

Certamente que marchas e passeatas, charges, frases feitas, balbúrdia e algazarra, tudo isso um erro. Assemelha-se por demais, na sua ilusão e inconsequência, o distúrbio das ruas, com o até inocente crédito que o povo dá à famigerada forma de ilusão coletiva, estribada no “blackout Friday” deste final de semana ...

Ir às ruas contra alguém ou algo simplesmente, é chocalho vão que alicia mas não constrói.

O país desenterra atualmente, via judicial, a mais profunda e grave ação corrosiva na moral e na administração. Enquanto o eleitor não souber porque vota e a quem endereça a escolha, nada muda.

Isso vale para os cargos eletivos municipais, estaduais e federais.

Nenhuma esfera se salva.

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