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Publicado: Quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Em algum lugar do passado

Todos os dias, à mesma hora, a velha senhora coloca um CD no aparelho, senta-se na cadeira de balanço e fecha os olhos, curtindo a música. Marca o compasso com os dedos e repete, com sua voz de octogenária, os trinados que o disco preservou de sua voz mais jovem. E aí o pensamento mergulha pelas dobras do tempo e a leva aos anos quarenta, aos seus vinte anos, em algum lugar do passado.

De repente a música começa a encher todo o ambiente em redor. O silêncio se faz maior e a velha senhora sonha com sua adolescência, bailinhos, matines formaturas na escola...

Por um momento teve a breve sensação que estava voltando à sua adolescência, aos sonhos do príncipe encantado que cruzava montanhas e vales para buscar a dona de um sapatinho de cristal, ou para beijar uma bela adormecida.

O coração da gente é elástico quando somos adolescentes. A nossa protagonista sente vontade de abrir sua pequena caixa de recordações e nela encontra fotografias, cartas, papel de sonho de valsa, caixinha de chicletes... Lembranças que ficaram de verões passados.

Cada adolescência tem o seu significado e, por isso as lembranças voltam à tona num piscar de olhos.

Fomos de um tempo em que telefonemas ou telegramas eram muito raros. Meu príncipe encantado sempre me mandava bilhetes românticos. Casados que somos há mais de 40 anos, vimos nosso correio amoroso tomar corpo somente depois do casamento. Boa parte desses bilhetes foi feita antes dele sair para o trabalho e deixá-los, na mesa junto à xícara do café da manhã.

Não eram bilhetes literários. Eram frases rápidas no guardanapo de papel. Tenho guardado todos esses bilhetes que marcam coisas do cotidiano. Hoje esses manuscritos foram substituídos pelos e-mails. Trocamos e-mails sim, como pessoas normais, mas são meras trocas de ideias, nada muito romântico...

 

Ditinha Schanoski

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