Colunistas

Publicado: Segunda-feira, 3 de abril de 2006

Educação em cor-de-rosa

Buscar alternativas para que os estudantes apliquem o conhecimento das aulas na prática e tornem-se cidadãos conscientes e atuantes já faz parte das políticas educacionais do País há pelo quinze anos. Enquanto alunos de arquitetura aplicam, no centro de São Paulo, seus conhecimentos para diagnosticar problemas referentes à limpeza das ruas, poluição visual e propõem novos projetos para a área, educadores reescrevem letras de antigas canções infantis, muitas vezes com a conivência dos pais das crianças.

O “politicamente correto” chegou aos personagens do folclore nacional, que perdem suas características assustadoras. Os animais são reverenciados e o final das histórias é sempre feliz. “Atirei o Pau no Gato” transformou-se em “Não Atire o Pau no Gato”. O “Cravo e a Rosa” ganhou uma nova estrofe final, na qual o cravo se recupera. O mais estarrecedor é que as novas versões fazem parte do currículo oficial das escolas brasileiras e são apresentadas às crianças como mais corretas que as originais. O argumento empregado é que as novas letras são mais educativas, pois contém bons exemplos a serem seguidos.

As canções folclóricas, assim como outras formas de manifestação popular, compõem um valioso patrimônio de cultura imaterial. São o reflexo do passado, cujo contexto histórico-social era diferente do atual. Não é possível reescrever o passado e apagar seus registros.Os tempos modernos alavancaram a humanidade a um posto de maior reflexão sobre as relações com o meio ambiente, os animais e o respeito às crianças, dentre outros aspectos.

O “politicamente correto” pode tornar-se uma arma letal, quando pretende transformar análises, revisões de conceitos, educação e exercício da cidadania em algo tão pasteurizado e insípido quanto os eternos finais felizes. Educar significa preparar para a vida, com tudo o que ela traz: perdas, violência e dificuldades. A continuar assim, os 7 anões serão transformados em “homens de baixa estatura”, o “Patinho Feio” será representado em cor-de-rosa e a madrasta de Cinderela dedicar-se-á a chás beneficentes. Onde entra o aprendizado?
Comentários