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Publicado: Domingo, 4 de março de 2007

Dom Gil e a tempestade que virou bênção

Dom Gil e a tempestade que virou bênção
Existem várias formas de aprendizado. Uma das minhas preferidas é escutar as experiências alheias. Tão importante quanto a formação acadêmica é tomar lições da “faculdade da vida”, prestando atenção na vivência de uns e outros e sabendo coisas que podem se tornar para nós de grande utilidade no futuro.
 
Há três anos Dom Gil Antônio Moreira chegou a Jundiaí e logo todos acostumamos com as histórias contadas por ele. Fatos de sua infância ou da caminhada religiosa percorrida até agora. Sempre nos trazem uma mensagem, provando a teoria de que também podemos tirar ricas lições de vida das experiências vividas pelas pessoas.
 
Logo no início de seu ministério sacerdotal, dom Gil Antônio Moreira atuou durante seis meses como missionário na Amazônia, na cidade de Foz do Jutaí (AM). De acordo com ele, as situações que viveu foram de grande enriquecimento pessoal e espiritual. Comentando em diversas ocasiões o tema atual da CF-2007, o bispo diocesano muitas vezes relata casos e passagens bastante interessantes daquele período.
 
O barco a motor é um dos principais meios de transporte na Amazônia. Certa vez dom Gil estava em um desses barcos, pertencente à Paróquia em que trabalhava. Enquanto um funcionário, apelidado de Pernambuco, cuidava do motor do barco, o sacerdote ficava na direção do leme. Ambos estavam navegando por um rio considerado pequeno para os padrões amazônicos, com “apenas” seis quilômetros de largura.
 
Naquela região, tempestades formam-se do nada em questão de minutos. Foi isso o que constatou o jovem sacerdote, então com 28 anos, quando começou a perceber as grandes ondas se abatendo sobre o barco, além dos raios cortando o céu escuro. Nessas horas, o rio parece-se com o mar em sua braveza. Lutando contra as águas, no intuito de levar o barco até uma das margens, dom Gil temeu por sua vida. Começou a rezar o ato de contrição e várias outras orações, chegando mesmo a pedir a Deus o perdão por seus pecados. Lembrou-se da passagem do Evangelho que relata a tempestade em que se viram os Apóstolos no mar da Galiléia e de Jesus exclamando: “Coragem, homens de pouca fé!”.
 
Com muito sacrifício o barco aproximou-se da margem. O sacerdote e seu companheiro de viagem amarraram a embarcação a uma árvore e alcançaram um barranco floresta adentro. A tempestade continuava violenta e de repente eles avistaram ao longe uma velha senhora toda de branco que lhes gritou: “Venham abrigar-se em minha casa, senão vocês irão morrer!”. Os dois aceitaram a acolhida e a anfitriã logo se colocou a preparar algo para comerem, além de providenciar panos para se enxugarem.
 
Entre uma conversa e outra, Pernambuco disse àquela senhora: “Esse moço aqui é um padre...”. Deixando transparecer grande emoção, a mulher jogou-se aos pés de dom Gil louvando a Deus. Como que para explicar o tamanho de sua satisfação, ela disse: “Há 30 anos eu não vejo um sacerdote. Há 30 anos não participo da missa. A igreja mais próxima fica a dois dias de viagem e não posso remar por causa da artrite em meus ossos. Não queria morrer sem me confessar e receber a Eucaristia”.
 
Ao escutar aquilo, dom Gil atendeu a mulher em confissão. Em seguida, lhe disse: “A senhora não podia ir até a igreja para encontrar-se com Deus e por isso vejo que o próprio Jesus enviou-me hoje aqui: irei celebrar a santa missa nesta sua casa!”. A emoção tomou conta de todos e o sacerdote viu o episódio como uma grande lição espiritual. No meio da tempestade o barco poderia ter sido jogado pela correnteza para qualquer direção: para cima ou para baixo do rio, para a margem esquerda ou para a margem direita. Porém, Deus determinou que tudo assim acontecesse, transformando o que poderia ser uma tragédia em um belo e rico testemunho de fé.
 
Amém.
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