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Publicado: Quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Diletantismo... Devaneios...

 

Quem vai contestar que a Internet abriu caminhos outrora inimagináveis, no encurtar distâncias e permitir aproximações, com imagem e som?

 

Sem sair do lugar, você vai para onde quiser ou traz para perto de si o que possa estar distante. O mundo que já vinha sendo visto como pequeno, agora é de algum modo doméstico, a partir do fato de que cabe dentro de sua casa. E você o esconde no seu computador, com a vantagem portanto de nem ocupar espaço. Quem diria ? . . .

 

Quantas mensagens chegam a todo instante aos internautas, que, se bem filtradas, realmente podem servir de ajuda, demonstração de afeto e fonte de aprendizado sem fim.

 

Sem perscrutar ou investigar, no momento ao menos, tem-se a impressão de que tudo estaria a indicar seja este um dos mais preciosos avanços da tecnologia. Esta, sabe-se, tradicionalmente irrequieta, a ponto de a cada momento tornar antiga a surpresa do dia anterior, tal sua velocidade em propiciar novas descobertas.

 

Se é verdade, no entanto, que sem sair de sua confortável poltrona você tem o mundo ao alcance de suas mãos, redundam dessa constatação outras considerações.

 

O homem, hoje, prescinde de fazer-se presente a mil circunstâncias e situações em que o contato humano ao vivo muito perde com sua falta. O telefone já facilitava na economia de tempo, através dos recados e das conversações. Perde qualidade no entanto, aos poucos, a expressão do calor humano, com o advento da Internet. Os e-mails passam e trazem longos textos sem o sabor do sorriso do outro ou do seu aperto de mão. Da morte lenta e constante do hábito salutar de abraçarem-se as pessoas, nem se fale. E como é importante um contato generoso e gostoso dos corpos que se encontram e se permitem, nesse afago, demonstrar de forma insubstituível como faz bem querer bem.

 

Tais mutações no relacionamento humano são percebidas mais de perto por homens e mulheres que nascem com um espírito favorecido, por saber haurir as doçuras de uma sensibilidade mais aguçada e atenta. Exatamente, para fixar um exemplo, o estado de espírito dos poetas.

 

A bem da verdade e por justiça, é perfeitamente defensável se afirmar, nessa referência aos poetas, que assim não se considere apenas aqueles que criam versos, com ou sem rima. A denominação é abrangente e agasalha tal como se também fosse um vate, o mortal que não sente pejo em sonhar, busca ir onde lhe apraz e que se dedica aos afazeres por gozo lícito e sem injunções de qualquer ordem. Não são pássaros, mas sabem voar com a exultação de seu espírito.

 

Aduz-se até a ousadia de uma proclamação, comum e aceita entre aficionados, estranha quiçá a outros, a de que o cronista vive e respira o mesmo ar e se lhe inocula igual inspiração àquela dos poetas. Se você reluta em atender ou concordar com esse preceito, pegue do Aurélio e veja a definição desse vocábulo precioso. Entre outras citações, ali se afirma: poeta, “aquele que devaneia ou tem caráter idealista”. Pois divagação e sonhos quanta vez não alimenta também o fulcro de uma crônica?

Mais do que dizer que é tênue a linha divisória entre o poeta e o cronista, não há exagero em se afirmar que muito mesmo se aproximam, entre si, em termos dos sentimentos que quase se misturam, na maneira do tratamento carinhoso como ornam as idéias. Se um verseja com elegância, o outro tece as frases a modo próprio, particular e pessoal.

 

Tanto que se ousa dizer que neste ramo de jornalismo não há presas nem presilhas. Tudo pode se transmudar em assunto. O zumbido da abelha que muitos sequer percebem, o alfinete que caiu no chão, o pneu novo de um carro, a verde e teimosa gramínea incrustada no vão minúsculo, o vendaval ou a brisa suave, um gol bem feito. E assim, indefinidamente.

 

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