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Publicado: Segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Decifrando a Santa Casa de Itu e sua crise ...

Decifrando a Santa Casa de Itu e sua crise ...
Hospital Centenário de roupa nova

Antes de pensar que você não tem a ver com isso, pelo menos questione: Afinal , o que é a Santa Casa de Itu no dia a dia da Saúde Pública ?

Vamos começar que é referência regional para os 48 municípios que compõem a DRS XVI Sorocaba e que isso significa, cobertura para 2,5 milhões de pessoas. Por ano, sofre invasão de mais de 80 cidades. Recebe mais de R$ 4,5 milhões em verbas públicas, de forma tripartite (ou seja, governo federal, estadual e municipal) mensalmente. Atende mais de 12 mil pessoas no pronto socorro (mas só tem contratualizado 6500 atendimentos com o SUS e cerca de 2000 atendimentos com a Prefeitura de Itu – referente às urgências e emergências municipais) , realiza cirurgias, tem leitos UTI de adultos, bebês e queimados. É um gigante que ampara a região, pois o Conjunto Hospitalar de Sorocaba vem progressivamente prestando desserviços à população desde a crise Dantesca que o derrubou.  

Uma situação de desassistência hospitalar instalada, que leva ao desespero todos os gestores e a população.

O SUS tem como princípio claro a necessidade do co-financiamento dos entes públicos para manutenção dos serviços de saúde. Isso é possível se todos conhecerem seus compromissos e seu papel nesta estória. No caso de Itu, num raro exemplo, podíamos observar que o governo federal garantia os serviços SUS conforme a necessidade da região e o Estado financiava os custeios hospitalares. O município de Itu contratava serviços de urgência e emergência para complementar sua rede. Essa relação pra dar certo, tem que se concretizar se relacionando e respeitando profundamente (e profissionalmente) com os princípios do SUS.

Reza a lenda que a Secretaria de Estado fez um corte financeiro unilateral no convenio mantido e que isso significou 34 % do total dos recursos hospitalares mensais a menos, a partir de 2012 . E esse dinheiro financiava os custeios do hospital, principalmente recursos humanos. Temendo um prejuízo impagável, a Instituição São Camilo suspendeu serviços programados, comprometendo os outros convênios mantidos.

A região beira mesmo um colapso com data de validade no fim de fevereiro, se esse impasse for mantido. Torna-se uma obrigação uma análise conjunta que responda às demandas da população, pois o hospital possui pelo menos 20 % dos atendimentos prestados sem financiamento claro que podem ruir do dia pra noite... Portanto, hora de acordar : hora de discutir o papel regional deste hospital, financiá-lo adequadamente através de uma gestão transparente e profissional, capaz de relacionar-se com todos os “atores” desse cenário. Sem isso, o futuro será incerto.

Se há o que ajustar para garantia do bom uso do dinheiro público, que seja com o apoio da população através de todos seus gestores (o Controle Social também está previsto nos princípios do SUS). Há tanto por fazer, que desperdício burro de tempo . O que não podemos, nesse momento é deixar que essa estória “cole” no abismo aonde se encontram o Conjunto Hospitalar de Sorocaba e os hospitais psiquiátricos de Sorocaba, ampliando um lamaçal aonde ficam presas as necessidades da população.

Quanta irresponsabilidade na cegueira. Não há solução sem financiamento adequado. Não há futuro sem coibir os abusos. Não há progresso se não houver humanização dos serviços (cuja formula mágica está no co-financiamento dos serviços) e incorporação de tecnologia (que garante a atração da medicina suplementar, também parceira do hospital em 15 % do financiamento).

Resumindo, a Santa Casa de Itu deve passar agora por uma auditoria que reescreverá a disponibilização de recursos financeiros para seu custeio. O que for decidido aí , norteará os serviços vinculados. Infelizmente, depois de uma longa negociação que concretizou o financiamento para realização de um mutirão de cirurgias no valor de R$ 500 mil reais , podemos ver isso ruir também !

Como nesse instante descobri que posso escrever, endossar e repetir sobre os acontecimentos pois estou nesse epicentro, espero que a decisão a ser tomada pela Secretaria Estadual de Saúde considere a falência moral do Conjunto Hospitalar de Sorocaba, cujo custos e produção de serviços SUS a população e gestores desconhecem e reconsidere o financiamento de novos AMEs (ambulatórios de especialidades médicas) nesta região, otimizando recursos para as reais necessidades e financiamento de serviços já existentes e que mostre – “sem medo de ser feliz” - a auditoria realizada. Nesse cenário, estão fortemente vinculados 20 municípios da região, dos quais quase metade não possui hospital e a população está com a referência hospitalar abalada.

E lembrem-se com carinho: esse é um ano eleitoral. A Saúde, como sempre, não elege ninguém, mas derruba todo mundo...

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