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Publicado: Sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Deadpool

Crédito: Divulgação Deadpool
"Deadpool" sabe quebrar a quarta parede como nenhum outro filme baseado em HQs soube fazer

"Deadpool" é o melhor filme baseado em quadrinhos de todos os tempos. A afirmação parece exagerada – e até deve ser –, mas foda-se. É inegável que a Fox acertou a mão no filme do Mercenário Tagarela. “Deadpool” soube transpor toda a insanidade de seus gibis para a telona como nenhum outro filme inspirado nas HQs fez antes, fazendo com que os fãs adorassem a produção e, mais do que isso, conseguindo atrair um público que nem conhecia o personagem.

Boa parte do sucesso do filme se deve ao marketing agressivo e muito bem feito. Mas o boca-a-boca também ajudou muito. Na sessão que fui, muitos estavam lá porque receberam recomendações de amigos e conhecidos. Nem mesmo a classificação etária (para maiores de 16 anos) impediu que as salas contassem com um bom publico. Bom para os produtores, que faturaram legal, e também para os fãs, que foram os grandes responsáveis pela existência desse filme e agora já estão ansiosos pela continuação – que foi confirmada pela Fox.

E toda essa repercussão em cima do filme é justificada. “Deadpool” não tem atuações fenomenais e nem nada de revolucionário (apesar de quebrar o formato engessado dos atuais filmes de super-heróis), mas é honesto e entretém o espectador. São quase duas horas de risadas garantidas, com um quê de ação tarantinesca e respeito ao material original. Mas vamos lá: quem é Deadpool?

Criado pelos quadrinistas Rob Liefeld e Fabian Nicieza em 1991, o personagem é um dos mais adorados pela geração recente de leitores de quadrinhos. Anti-herói clássico, o mutante é a síntese do mercado da nona arte dos anos 1990, que consiste em pouca inspiração – afinal ele é uma paródia do Exterminador, da DC Comics – e histórias rasas, fundamentadas em ação desmedida simplesmente. Mas, com o tempo, Deadpool soube se reinventar.

O personagem, cuja identidade secreta é Wade Wilson, é um dos poucos nos quadrinhos mainstream a quebrar a quarta parede – conceito imaginário que divide a obra do apreciador. Ou seja, a todo momento ele conversa e interage com o leitor. E isso foi muito bem utilizado no filme. Ryan Reynolds, intérprete de Deadpool, fez isso melhor até que Kevin Spacey em “House of Cards”!

Aliás, sem Reynolds o filme não seria o sucesso que está sendo. Fã confesso de Deadpool, ele se sentia responsável pelo fiasco que foi a adaptação do personagem em “X-Men Origens: Wolverine”, aquela bomba de 2009. Mais do que isso: o ator – que também produz o filme – sabia do potencial do personagem e da repercussão que ele teria num filme solo. A insistência dele e a pressão pública fez a Fox dar carta branca para a produção e o resto é história.

Mas vamos voltar a falar do longa. Como disse antes, “Deadpool” não tem grandes atuações. E o próprio filme zoa com isso. Aliás, o filme é uma grande e infinita zoeira. Uma verdadeira paródia do gênero de super-heróis, que não tenta – nem quer – ser levada a sério. Com o “foda-se” ligado, Tim Miller faz uma direção competente e que soube retratar na telona conceitos próprios dos quadrinhos.

Mas talvez o grande trunfo de “Deadpool” seja o excelente roteiro escrito por Rhett Reese e Paul Wernick. Com um orçamento baixo, eles tiveram que se virar e conseguiram amarrar tudo sem gastar mais do que tinham disponível. Os diálogos também são super divertidos, não poupando ninguém na indústria do entretenimento – nem mesmo a Fox. A importância dos roteiristas foi tamanha que eles são creditados como os “verdadeiros heróis” do filme.

Com cenas incríveis e piadas com diversas camadas, “Deadpool” pode ser chamado de um filme memorável. Não é nenhum aspirante a Oscar a porcaria de prêmio algum, mas já conquistou o coração do espectador. Quem sabem na seja o primeiro de uma nova era dos filmes baseados em quadrinhos, com filmes que não tenham vergonha de abraçar o material original.

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