Colunistas

Publicado: Sábado, 10 de janeiro de 2009

Das Lembranças

O cheiro do café preparado na hora, e a maneira doce e gentil que os pratos de biscoitos eram dispostos sobre aquela toalha delicadamente rendada de história.
 
A fachada daquela casa distante, de paredes brancas, os vasos de violetas e pequenas outras flores na janela de madeira, e o sorriso de boas vindas no batente da porta.
 
O som das lágrimas sendo contidas, nos ombros, enquanto o abraço fazia, de novo, a memória abrir as empoeiradas caixas de o quanto a vida aconteceu, para podermos parar um instante e notar o valor de cada detalhe, e os desvalores de cada promessa ou esperanças fugidias.
 
Fiquei esperando a vontade de escrever aquilo tudo que estava para ser escrito, mas aquilo não estava esperando para ser escrito. Estava, aquilo, somente existindo, escondido – como todas as coisas que permeiam nossos dias, que ficam escondidas, esperando a hora de serem lembradas.

Vendo de fora, algum contentamento poderia ser maior que o de quem está prestes a escrever alguma história, porque é necessário esperar a vontade das palavras.

Olha os dias, as ruas. Olha a chuva, a noite. Faz um esforço gigante para olhar e imaginar outra paisagem, e esperando ainda as palavras que caberiam a cada paisagem criada.
Lembra o café, o abraço, as flores da janela.

Dizem que é verdadeiro aquilo que não é contestado.

Se tiver dúvidas acerca de algo, é porque ainda não é certo. Enquanto tiver perguntas sobre a veracidade daquilo, ainda não é o fim, ainda não é a verdade que você procura (algumas finalidades são sempre esperadas para que aconteça o começo).

E cada um segue com uma verdade para si.

Versões. Versos.

E cada um segue sem saber sua verdade. Coisas que acontecem. Coisas que não aconteceram.
 
Seguem criando pensamentos que estão passiveis de se tornarem palavras.

Na véspera do escrever toda ideia some.
Tudo o que estava para ser escrito rouba o contentamento do escritor, que fica somente com a lembrança, mas sem nenhuma palavra.

Há muito tempo, num instante muito distante, a sua verdade não podia ser dita.

Era somente observar.

Cada verdade andava aos pares, e a sua verdade andava só.

A observação era motivo da sensibilidade de se construir as linhas.
Hoje é ser ágil, e não deixar a realidade desviar o assunto, cobrando verdades que ela nem sabe se existem...
 
 
Comentários