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Publicado: Quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Dá pra falar mais baixo?

Crédito: Domínio Público Dá pra falar mais baixo?

Parecia um grande enxame de moscas, o hospital em São Paulo. Para entrar, uma rede de segurança dividida em quatro estações, impedia a livre movimentação dos visitantes, cujo único desejo era estar com os entes queridos ali internados.

Na primeira estação, entrega de crachás. Na seguinte, o itinerário a cumprir.

- Operado? Corredor à esquerda.

- Aguardando cirurgia? Quinto andar.

A terceira, checava as informações e a última, dava acesso aos andares superiores. Tudo devidamente monitorado por rádio.

A fila para o elevador aumentava na proporção direta da demora. Quatro, seis, dez pessoas e nada...

O homenzarrão da frente portava um Nextel nas mãos, que erguia bem alto, como um troféu. Ao seu lado, a moça delicada, de terninho e saltos altos, sussurava-lhe qualquer coisa, respondida com grunhidos.

A cara de poucos amigos se contraía ao olhar para trás e verificar a chegada de mais um. O Nextel soou no último volume e – horror - o homem atendeu. Aos berros.

Desconcertada, a moça tinha ímpetos de desaparecer. Tocava-lhe o braço e franzia a fisionomia, em franca desaprovação.

Atrás deles, a velhinha mirrada de vestido estampado, estuporava.

- Onde já se viu tamanho descalabro? Pensava.

- Que falta de educação!

Os minutos se arrastavam lentamente, amolecidos pelo calor. O elevador chegou e era pequeno. Entraram os três primeiros, o homenzarrão e a moça, a velhinha, mais um, dois... e lotou.

O grandalhão mantinha a mão erguida, orgulhoso do seu Nextel ou, talvez, impedido de abaixá-la.

A velhota estava de frente para ele, que resmungava. A subida era lenta e o indivíduo, que olhava por sobre as cabeças, dizia bem alto:

- Olha aí, o tanto de gente. Não tem saúde que resista a esse lugar fechado, com tanta gente. Também, todo mundo vai pegar a minha gripe. Eu tô gripado, viu?

A velhinha não resistiu. Para ela aquilo já era demais. O grandalhão merecia o troco.

Com a vozinha delicada, mas firme, respondeu no mesmo tom:

- Não se preocupe, moço. Se todos sobreviverem à minha tuberculose, certamente não pegarão a sua gripe.

O elevador explodiu em gargalhadas. A moça do terninho, com riso contido, olhou agradecida em sua direção.

 

Conteúdo: Conduta inadequada; falar alto em locais de grande aglomeração e celular.

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