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Publicado: Sábado, 6 de junho de 2009

Da gentileza, da bondade, e outras virtudes

Crédito: Álbum de família Da gentileza, da bondade, e outras virtudes
Que, com amor, passemos a eles essas virtudes
Um dia desses, uma amiga muito querida, que vive, e gosta de viver, a boa batalha, agradeceu-me por uma gentileza, mas depois estranhou por estar agradecendo, notando que a gentileza è algo esquecido no tempo, que a gratidão è uma coisa ultrapassada.
 
Resolvi pensar sobre este assunto, e dedico este artigo à Cacau, uma mulher de grande valor, uma italianinha querida, parte integrante da incrível história da existência humana.
 
Tentei percorrer novamente todos os caminhos que já percorri, tentei fazer um balanço de “toda uma vida passada” para, assim, poder compreender onde está o ponto de chegada que nos levará a uma nova partida.
 
Tentei olhar para mim mesmo, e, assim, compreender as pessoas que me cercam no dia a dia, nos diferentes ambientes em que vivo.
 
A gentileza, o amor, a compreensão, a bondade, a serenidade, a beleza, a ética, a estética (reflexo de nosso interior), a amizade singela, entre outras tantas coisas, deveriam estar presentes em nosso “day by day”, mas isso não acontece. Os interesses menores, que nos voltaram para nossos próprios umbigos, nos tornaram céticos, como diz o Chaplin em seu discurso. Vou além, nos tornaram amargos.
 
Refletindo, me perguntei como isso se apresenta em nossas vidas, como é esse desvio de visão que nos leva a caminhos errados, e a escolhas erradas.
 
A resposta a que chego è que, devido a tanta propaganda, a tantas coisas que nos vendem na TV, nas rádios, nos shoppings, nas bancas, nas mais diferentes esquinas da vida, passamos a valorizar a casca, não o interior; passamos a nos deter no contentor, não no conteúdo; passamos a comprar pacotes, não presentes; passamos a levar para casa o discurso, não o foco da questão; passamos a comprar o livro pela capa, não pelo escritor ou pelo que escreve; passamos, enfim, a ficar no supérfluo, não nos aprofundando no espírito da questão, na alma da pessoa que nos fala.
 
Perdidos nesse emaranhado de ilusões que construímos para nós mesmos, passamos a ver valor nas pessoas “saradas”, homens e mulheres; a ver como companheiro ou companheira ideal, a pessoa que se enquadre no “padrão” que nos foi vendido durante toda uma vida.
 
 Usamos de todas as artimanhas, malhação, emagrecimento, operações das mais diversas, tingimentos e fingimentos, mas não saímos do quadrado! Assim, “nos enquadramos” em uma Sociedade que se esqueceu como Humana, que se esqueceu como reflexo de um ser maior, bondoso, incrivelmente gentil, incrivelmente amoroso, eterno em sua sabedoria.
 
O carro do ano, a viagem dos sonhos, os “amigos” das baladas, o apartamento na praia, a roupa de “griffe”, a conta bancária, o cartão, foram ganhando espaço em nossas vidas em detrimento ao “buquê” de flores colhidas no quintal, ao café na cama, ao jantar em casa à luz de velas (brancas mesmo), ao abrir a porta do carro para a companheira, para o companheiro, ao passeio de mãos dadas, ao sorvete na praça, ao passeio no Ibirapuera com os filhos, à poesia, que tanto nos diz à alma, à missa aos domingos, depois macarrão preparado a dois, acompanhado de um bom vinho.
 
Enfim, o que era para ser complemento passou a ser o principal, e o principal ficou esquecido em um canto de armário, cheio de poeira e teias de aranha, pedindo, clamando, por limpeza e arrumação, voltando, assim, as coisas aos devidos lugares.
 
- Não sou contra as coisas que nos dão mais conforto, proporcionam momentos diferentes, renovam a alma para a semana, não sou contra a evolução que conquistamos a tão duras penas. Discordo, e com um bom discordar, do valor que se deu ao complemento.
 
Vivo também a boa vida, sonho também o bom sonho, amo também o bom amar, mas tudo a seu tempo. A vida é construída de realidade, de estudo, de trabalho, de “jogo duro”, de responsabilidade, de honra, de gratidão, não de fantasia!
 
Para que possamos ter o complemento, precisamos construir o principal. Perdidos em nós mesmos esquecemos nossas origens, que somos feitos com o que há de melhor no Universo – Espírito, Filosofia e Matéria, um apoiando ao outro na medida certa, e no momento certo. Esquecemo-nos de que o amor sublime deve ser o condutor de nossas ações, deve ser o condutor da forma como educamos nossos filhos, deve ser a mola mestra em nossa existência como seres humanos, responsáveis pela continuidade da obra divina. Deve, sempre, fazer a diferença em nossos diferentes relacionamentos.
 
Não estamos acostumados à bondade, e deveríamos; Não estamos acostumados à gentileza, isso è fundamental; E não estamos mais acostumados à felicidade plena, que invade a alma, que nos transporta, nos acalma e nos dá confiança. A felicidade, quando alcançada, nos mostra o que é a vida, de fato, nos mostra o que é SER HUMANO.
 
Esquecemo-nos do que è ser amigo! 
Amizade! Palavra linda, sublime, encantada, traz em si a beleza da história da existência humana.
Amizade! O maior feito do ser humano, a maior conquista do ser. É a entrega total, infinita, eterna.
 
Tijolo por tijolo, uma amizade verdadeira demora para ser construída. Mas, quando construída, se torna eterna, atravessa os tempos, transporta pessoas de um lado ao outro dos oceanos, só pelo prazer de estar um pouquinho com a pessoa amiga, sentir seu calor, sentir seu cheiro, sentir seu perfume, receber um beijo... Tomar um café a dois, olhando o horizonte, falando das coisas boas que, juntos, viveram, e das tantas e quantas batalhas, que juntos venceram, ser amigo é uma constante troca, um constante vai-e-vem de afetos, de momentos carinhosos, de momentos doces, de alegria infinda. Ser amigo é bater à porta, quando todas as portas se fecharam, è estar presente, mesmo que em silêncio, quando todos os demais se foram, è chegar de mansinho, na calada da noite, para espantar os fantasmas dos inúmeros pesadelos humanos, è dar as mãos com delicadeza e dizer, apenas com um olhar, que a amizade é a flor mais perfumada que o ser humano j&aacut
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