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Publicado: Quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Cumuru: seu encanto natural e os costumes do povo

                                               “onde o tempo não tem pressa e a preguiça é mais gostosa”
      Cumuruxatiba, litoral sul da Bahia, na Rota do Descobrimento e na Costa das Baleias, surpreende pelas suas praias formosas e os costumes pouco civilizados de sua gente. Cumuru é um vilarejo de 5.000 habitantes, pertencente à cidade de Prado, e fica a 694 km de Salvador e 228 km de Porto Seguro, local do descobrimento do Brasil.
     Perto dali, o cenário do Monte Pascoal, ponto da terra brasilis avistado pelos portugueses de Cabral. E Barra do Cahy, local primeiro de chegada das caravelas, as quais, não podendo ali aportar, rumaram para Porto Seguro em 22 de abril de 1500. Na carta de Caminha ao rei de Portugal fica confirmada a chegada dos descobridores a Barra do Cahy.
     Uma linha de recifes se alonga pela costa de Cumuru, amansando as praias de areia fina e beleza encantadora. Não é fácil apontar a praia mais bonita, já que quase todas são enfeitadas por coqueiros e amendoeiras, entrecortadas por riachos e rodeadas por falésias altas O nome Cumuruxatiba na língua pataxó quer dizer "grande diferença entre a maré baixa e a maré alta". Na maré baixa pode-se caminhar 200 metros mar adentro desfrutando das águas mornas e ondas suaves.
     Uma consulta aos sites de viagem mostrará uma Cumuru cheia de encantos com suas belas pousadas, praias vazias e culinária deliciosa. De fato, um turista ocasional desfrutará de tudo isso. Já o morador permanente ou o veranista que passa semanas na vila encontrará certos costumes estranhos aos observados em suas cidades de origem.
     Na única rua pavimentada da vila os carros ficam estacionados nas calçadas de pedestres. Além disso, a frente das casas também invadiu o passeio público, prolongando a construção sobre a calçada. A solução é andar na rua, cuidando para que as motos não atropelem os distraídos. As construções são precárias e irregulares, sem habite-se e muito menos projeto. Os terrenos das casas resultam de ocupações ilegais e os imóveis não tem como ser registrados em cartório. Um único documento – carnê do IPTU – atesta o nome do proprietário e a localização do imóvel, nada mais.
     Os terrenos á beira-mar avançam sobre as ruas costeiras e bloqueiam a passagem de veículos e pessoas: onde havia a rua hoje há uma cerca e uma casa. A ocupação de áreas vazias ocorre com frequência. O próprio administrador local da prefeitura patrocinou a invasão e construção de uma casa precária, depois demolida.
     Aproveitando a leva de turistas na alta temporada – 26 de dezembro a 15 de janeiro – as pousadas, o comércio local e os restaurantes praticam preços abusivos: uma diária custa 500 reais, uma pizza chega a custar 80 reais e uma cerveja 15 reais. Os moradores preferem fazer suas compras em Itamaraju, distante 74 quilômetros.
     As palavras da gentileza – obrigado e com licença – ainda não chegaram à maioria do povo de Cumuru. Muitos vivem da pesca e do Bolsa Família e de serviços domésticos aos proprietários de casas oriundos de outras cidades. Ninguém tem registro em carteira, são todos informais. Quem se atrever a reclamar na justiça do trabalho não conseguirá mais emprego no local. A informalidade é tanta que o trabalhador não se sente obrigado a comparecer no local de trabalho no dia e horário combinados, o que leva os contratantes a pagar só após o serviço terminado.
     Costumes e práticas desta natureza, pouco civilizados, fazem parte do comportamento da maioria das cidades brasileiras, especialmente no Nordeste. A baixa qualidade da educação perpetua o atraso e bloqueia a evolução do povo. Não há esperança de melhoria na repetição das práticas primitivas.
     Cumuru, então, deve ser apreciada pelo que possui de natural, desfrutada por suas praias mansas, por do sol bucólico e tranquilidade paradisíaca. Releve os costumes deploráveis, aceite a forma de ser dos seus habitantes e viva feliz . Aqui a preguiça é mais gostosa.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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