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Publicado: Segunda-feira, 3 de janeiro de 2005

Convivendo com as tragédias

Antes de começar esta artigo, preciso esclarecer que não estou sendo influenciado pelas tragédias, inúmeras, que nos cercam neste final de ano, e em nosso dia-a-dia, desde que nascemos. Estou, sim, preocupado em compreender os caminhos que, apesar dessas tragédias, nos tem levado a um incrível desenvolvimento em tão pouco tempo.

Bem, vamos lá.

Estou dedicando meu tempo que sobra, quando sobra, ao estudo da História do Homem na Terra, suas perdas e suas conquistas, que fizeram com que chegássemos ao desenvolvimento atual. É incrível como temos evoluído nesta área nos últimos dez anos. Os anos 90, do século passado, estão sendo chamados de “ anos de ouro na descoberta de nossa história externa e interna ( cerebral )”. São tantas as descobertas, e umas levando a outras, em um efeito sinérgico incrível, que não há tempo, e não haveria mesmo que eu tivesse as 24 horas do dia à minha disposição ( como eu gostaria e me encantaria ), para ver tudo.

Entretanto, e esta é a razão deste artigo, com o que tenho visto, já dá para compreender um pouco, e passar à frente, como age a Natureza, nossa Mãe e não Madrasta, e como interfere em nossa vidas.

Peguemos como exemplo Nova York. Há, somente, cincoenta mil anos ( um tempo muito pequeno na história do planeta) estava coberta de gelo, que foi se derretendo com o tempo para dar lugar aos Seres Humanos que lá chegaram, através do Estreito de Bering, há pouco mais de dez mil anos. Várias áreas do Planeta têm períodos cíclicos entre calor e frio, eliminando umas formas de vida e dando lugar a outras, períodos esses que podem durar de mil a quinhentos mil anos.

Se, há mais ou menos dois milhões de anos, não houvesse acontecido um desses períodos no Continente Africano, não estaríamos aqui, pois somente com o aquecimento daquela Região foi possível o desenvolvimento de áreas florestais que deram proteção aos nossos antepassados, os primeiros Hominídeos, que deram lugar, depois, aos Homo Sapiens, nossa espécie.

Convenhamos que ainda não é lá muito “Sapiens”.

Porquê esta prosopopéia toda? Para que possamos compreender que não somos os donos do Universo, como pensam muitos e muitos, que enxergam somente o próprio umbigo e vivem brigando por quimeras e calculando prejuízos em vez de construir novas casas, novas pontes, novos horizontes.

Existem dois tipos de tragédias; as que não podemos evitar, as naturais, que continuarão existindo e se manifestando Universo afora, pelo todo sempre, quer queiramos ou não, quer aceitemos ou não, e as tragédias que nós mesmos causamos, principalmente pelo forma egoística que escolhemos até agora para viver, por completa falta de conhecimento, por ignorância.

Com relação às naturais, entendo que podem se manifestar no ambiente externo, ou em nosso círculo próximo, como as doenças em família, por exemplo. Uma doença grave para mim é uma tragédia, mas olhando isso de forma emocional, não racional, pois se olhar desta forma, racional, compreenderei que está dentro do esperado. Não existem árvores que duram, duram e duram, e outras que se partem com um raio, com um ataque de bactérias, ou outros motivos? Assim somos nós também . Somos tão parte da Natureza como é a árvore, como são as estrelas, como são os pássaros, como são os peixes. A única diferença é que nos tornamos “ sapiens “ há mais ou menos 40 mil anos, quando começamos a armazenar informações em nosso cérebro e trabalhar com elas. Mas estamos apenas no começo. Ainda usamos apenas 6% dessa capacidade de armazenamento, transformação e aplicação.

Para que você que me lê tenha uma idéia, e compreenda o que falo, faça um teste: Pergunte a si mesmo, ou a si mesma, se já aprendeu a lidar com as emoções; se já aprendeu a compreender os erros de seu companheiro ou companheira; se já aprendeu a deixar que passem à sua frente na fila do supermercado; se já aprendeu a deixar pra lá uma ultrapassagem errada de um companheiro de trânsito; se já aprendeu a perdoar, a não levar pra casa desaforos; se já aprendeu a relevar os erros elementares de seus alunos na Escola e perceber que quem não sabe é você: se já aprendeu a falar baixo ( uma coisa tão simples, não é mesmo? ); se já aprendeu a lidar com o afeto ( “ é dando que se recebe “). Faça este teste. Eu já fiz e não gostei, percebi que estou muito longe de “ Ser Humano”, de usar as capacidades que sei existir, mas não sei trabalhar com elas.

Bem, desculpem, gostei sim, pois desta forma posso perceber meu lugar dentro da Sociedade em que vivo e convivo.

À medida que vamos aprendendo a lidar com isso tudo, vamos também compreendendo que precisamos evoluir, e à medida que vamos evoluindo, pouco a pouco, vamos aceitando que a Natureza não é culpada de fazer os ajustamentos que faz.

Vamos a São Paulo, ou ao Rio. Alguém pensou, ao construir o Anhangabaú, ou as Marginais, ou a Avenida Ipiranga, que os Rios que estavam nestes locais não teriam para onde ir? Alguém pensou, ao construir casas nos morros, muitas sem condições de uso ou qualquer segurança, que com uma chuva mais forte tudo viria abaixo, pois a água tem que se infiltrar e, assim, torna a terra mais fofa e fácil de deslizar, naturalmente?

Eu já vi, na Praia de Copacabana, ondas altíssimas. Alguém pensou que, ao construir os prédios à beira da praia, estaria correndo riscos desnecessários, pois um dia o Mar pode resolver ir “ um pouco mais longe “?

O quê conhecemos sobre o comportamento dos Oceanos?

Não sabemos nem do comportamento do Riozinho que passa em nossa Marginal!

Então o que queremos? Que a Natureza se adapte a nós? Que o Universo se dobre às nossas vontades?

Quem disse que podemos ocupar espaços destinados exclusivamente à Natureza?

Se, neste início de ano, e ainda início de milênio, pararmos , um pouquinho só, para refletirmos sobre este assunto, veremos que Deus não é culpado.

Nós somos os culpados, culpados inocentes, mas somos. Inocentes, claro, pois estamos apenas no começo e estamos, só agora, aprendendo a lidar com Nossa Mãe Natureza.

“Perdoa-os, Pai, pois não sabem o que fazem”

Agora, e isto serve para todos os Governantes e Legisladores que entram em ação no dia primeiro de Janeiro, as tragédias que nós mesmos criamos podem ser evitadas com o uso do conhecimento que já temos, com o uso da bondade que já conquistamos, com o uso da razão que já nos foi ensinada há muito tempo, por tantos e tantos pensadores que vieram antes e nos deixaram escritos os caminhos.

Nossa arrogância extrema, nosso egoísmo sem limites, nos tem to

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