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Publicado: Sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Como Nasce o Amor?

Curioso como os seres humanos ligam as estações do ano aos sentimentos. O verão é ligado à alegria; o outono à melancolia; o inverno, à tristeza; a primavera, ao amor. O conhecido cantor e compositor Tim Maia tem uma música que nos remete a isso: "De repente a dor / de esperar terminou / e o amor veio enfim / Eu que sempre sonhei / Mas não acreditei / Muito em mim // Vi o tempo passar / e o inverno chegar outra vez / Mas dessa vez / Todo pranto sumiu / Novo encanto surgiu: meu amor!".
 
No Brasil a primavera chega na segunda quinzena de setembro. Costumo dizer que é uma estação do ano que torna tudo mais bonito. Basta observar a natureza. As flores desabrocham, as árvores tornam-se frondosas novamente, os animais saem de suas tocas. E nós, até então encolhidos e desanimados pelo frio do inverno, começamos a nos aquecer com o sol que volta a aparecer.
 
É claro que não estou levando em conta o El Niño e o clima amalucado dos últimos anos. Ainda mais em um país tropical, o inverno pode ser seco e com temperaturas altas. Ao passo que, em pleno verão pode fazer frio. São conseqüências da degradação que a humanidade vem causando ao meio-ambiente, mas não tiram do nosso senso comum a idéia que temos sobre as estações do ano.
 
Se o inverno está ligado subjetivamente a elementos como a solidão e a tristeza, o choro e a tragédia, a primavera remete à alegria, ao sorriso, ao amor. Saber como nascem as estações climáticas é fácil, basta conferir o calendário ou as notícias das agências de meteorologia. Mas e o amor, como nasce?
 
O amor nasce devagarinho, sutilmente. É como uma brisa suave que passa pelo coração, inicialmente despercebida. Sua refrescância areja a nossa alma e de repente nos damos conta disso. Imbuídos de um senso investigativo próprio dos que já praticam certo auto-conhecimento, começamos então uma busca com o objetivo de decifrar o que nos faz sentir tão bem do que antes.
 
Com tal análise, descobrimos uma sensação boa. Uma vontade de querer bem, de cuidar, de proteger. Um desejo de partilhar esse sentimento com alguém que também o esteja vivenciando e que lhe dê o devido valor. Ao contrário da paixão humana, que tem de arrebatadora o que tem de breve, o amor demora a evoluir. É como o cimento mole que demora a secar, mas, quando isso acontece, torna-se sólido, concreto e resistente.
 
O amor é assim: demorado, mas depois duradouro. E não apenas o amor entre um homem e uma mulher, mas também entre amigos e parentes, entre irmãos de uma mesma comunidade, entre cada um de nós e o próprio Deus, fonte de todo amor. Observando tanto ódio, egoísmo, avareza e crueldade no mundo em que vivemos, nos perguntamos: onde estão as manifestações do amor em meio à humanidade?
 
Acontece que a modernidade nos viciou com a síndrome do fast tudo, nos mal acostumando a desejar todas as coisas rapidamente, ao apertar de um botão. Assim é o mundo de hoje, tanto para ligações telefônicas e exames médicos, quanto para transações bancárias e transmissões de televisão. Tudo 24 horas por dia, tudo ao vivo e em cores, tudo na velocidade da luz.
 
Como vimos, o amor não pode funcionar assim. É preciso dar tempo ao tempo. É preciso deixar que os sentimentos, assim como as estações, venham no tempo certo. Desejar o amor depressa, antes do tempo, é asfixiá-lo desde o início. É sufocar uma planta que ainda está na semente. É exigir dele o que ainda não pode ser. Depois de plantado, o amor precisa brotar, nascer, evoluir, crescer sempre mais. E continuar sendo regado e cuidado constantemente, tudo ao seu tempo.
 
Amém.
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