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Publicado: Segunda-feira, 28 de junho de 2010

Coincidências?

Luiza já viajava há algumas horas quando Edméa ocupou a poltrona a seu lado.

As duas mulheres começaram, naturalmente, a conversar.

Dos assuntos triviais, o calor, o desconforto da viagem de trem, as ultimas novidades, passaram para os assuntos pessoais.

Descobriram várias afinidades. As duas eram professoras já aposentadas, ainda relativamente jovens.

Recém formadas, tinham lecionado em várias cidadezinhas da região e tinham muitos conhecidos comuns, colegas e moradores dos locais de quem lembravam e comentavam passagens interessantes.

- A gente sofria, mas divertia-se também. Eu, a cada ano mudava de cidade e de namorado.

- Eu namorei o Tales, em Andradina, um moço lindo, mas quase analfabeto.

Diziam que ele namorava todas as professoras que passavam por lá e eu quis marcar o meu ponto.

- Eu tenho tanto para contar que, se fosse escritora poderia escrever um livro. Depois me casei e minha vida mudou completamente. Mas não me arrependo. Meu marido é excelente pessoa e meus filhos são uns amores. Toda minha família só me dá alegrias.

- Que bom. Eu não me casei embora tivesse tido muitas oportunidades. Não tive coragem de abrir mão de minha liberdade, mas, agora, a solidão começa a me pesar.

- Você ainda é jovem. Pode casar-se ainda. Por que não?

Luiza sorriu e confidenciou:

- Pois está me acontecendo algo maravilhoso. Um colega conheceu em um encontro um antigo namorado meu que, em conversa, sabendo que ele era da minha cidade perguntou se me conhecia.

Disse que, apesar de ter se casado, nunca me esqueceu e acabou conseguindo que o outro lhe desse meu e-mail.

Desde então estou vivendo o romance mais emocionante que você possa imaginar. Trocamos e-mails, conversamos pelo telefone e passamos as madrugadas teclando em uma sala de bate papo.

Estamos apaixonados e ele disse que a hora que eu quiser ele acaba com o casamento que já está desgastado para ficar comigo.

- Que coisa fantástica! E quem é ele? Será que não o conheci nas minhas andanças por ai?

- Ele é de Duartina e se chama Gilberto Mendes.

- Gilberto Mendes?!

- Sim. Será que o conhece?

- Sim... não... o nome não me é estranho...

Edméa recostou-se e fechou os olhos:

- Estou com um pouco de dor de cabeça. Vou tentar dormir um pouco.

Luiza calou-se e pouco depois chegou a seu destino.

Edméa continuava cochilando e ela saiu sem se despedir.

Quando chegou à casa e foi direto ao armário onde Gilberto Mendes, o seu marido guardara uma caixeta de madeira entalhada, logo depois de seu casamento há mais de vinte anos.

O pequeno cofre tinha uma chave, mas ele não se preocupou em tirá-la da fechadura e Edméa, apesar de não ser muito ciumenta nem muito curiosa, fez o que qualquer mulher faria, foi espiar o que ele guardava lá.

Nada demais. Miudezas, lembranças de viagem, uma coleção de chaveiros, umas moedas estrangeiras, fotografias de pessoas que ela não conhecia.

Uma foto a intrigou um pouco.

Era de uma ex-namorada chamada Luiza, mas, o namoro era antigo e Edméa não deu maior importância ao fato.

Fechou a caixinha e não pensou mais nela.

Agora tinha a foto na mão, observava com atenção tentando verificar se seria da sua companheira de viagem que, coincidentemente tinha o mesmo nome que ela.

Edméa era péssima fisionomista e não conseguiu encontrar qualquer semelhança nem diferença entre as duas Luizas.

E o Gilberto Mendes? É claro que não podia ser o seu marido, afinal, o nome era comum, existem tantos homônimos, mas era intrigante, lá isso era, ainda mais porque lembrou-se de que ultimamente o marido dera de passar as madrugadas no computador.

- Estou fazendo uma pesquisa para ajudar um amigo que está preparando uma tese, justificou.

- Mas, a noite inteira?

- É que o assunto é tão envolvente que a gente nem percebe as horas passarem.

Vieram-lhe à memória as palavras da outra:

- Passamos as madrugadas teclando...

Recordou-se, ainda, de que alguns meses atrás estranhara haver muitas ligações para um numero que ela não conhecia.

O marido disse que devia ser engano e que ele ia à telefônica averiguar.

Não falou mais no assunto e nos meses subseqüentes ela não viu as contas. Ele pagou e ela não se preocupou de conferir mais nada.

Seria possível que o marido a estava traindo ou, no mínimo, enganando a Luiza?

Ela sempre confiara nele. Por que havia de acreditar nas palavras de uma estranha? Podia ser tudo mentira dela.

Ou mera coincidência!

Comentou com o marido.

- Imagine você que conheci uma Luiza que está namorando um Gilberto Mendes. Que coincidência, não?

- É mesmo. Existem mais homônimos do que a gente imagina!

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