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Publicado: Sexta-feira, 30 de julho de 2010

Cheguei de Galápagos e encontrei um tubarão

O modelo de relacionamento com fornecedores que está sendo imprimido pelas empresas é um mar que não vale a pena nadar.

Acabei de voltar de Galápagos. É uma explosão de vida e um convite irresistível a respeitá-la. O singular encontro de correntes marítimas vindas de todos os lados e a convergência de ventos de ambos hemisférios criam um lugar único. Lá lembrei que sou apenas um indivíduo de uma espécie. Uma espécie fascinante, mas ainda assim, apenas uma espécie. A seleção natural seguirá nos alterando e, se necessário for, criando novas espécies para tomar nosso lugar neste fantástico planeta. Ir a Galápagos não foi um período de descanso. Foi um período de vida e um alerta para me lembrar que a vida nos é dada para ser vivida, não gasta. Entender o mundo é bom e interessante, mas não deve substituir o exercício de viver e de ser apenas o que se é, e conviver com o que está ao redor que, na verdade, não é outra coisa, mas apenas outra parte da mesma coisa: o mundo. Para viver nele é mais importante vivê-lo do que estudá-lo. Estudar pode ser, sim, um exercício de encantamento e fascínio, mas não deve tornar-se mais importante do que o simples e, ainda assim, complexo, ato de viver.

Lá, cercado de tubarões de mais de três metros por todos os lados, senti o óbvio. Os tubarões não estão esperando para nos atacar. Eles são indiferentes á nossa arrogância que fundamenta a nossa crença de que seremos atacados por eles imediatamente. Nós seremos atacados se isto for conveniente para que eles façam o que devem fazer: viver. Caso contrário seremos sempre benvindos para passear ao lado deles e de todas as outras criaturas que, naquele momento, estarão também passeando ao nosso lado. Assim que cheguei da ilhas, ainda hoje, me deparei com discussões acaloradas que me foram – graças ao luxo de um olhar quase externo, possibilitado por oito dias vivendo em um barco cercado de vida - uma flagrante revelação de nossa capacidade de mediocrizar a vida e dar grande importância e elementos rídiculos. Flagrei corporações milionárias negociando o pagamento de um trabalho, num discurso patético de falta de rcursos. Flagrei o empobrecimento da alma que é incentivado e acelerado no dia-a-dia por relações como estas. Flagrei a facilidade com que nós entramos neste ridículo ciclo e deixamos nossa alma também se entorpecer para dar importância a esta evidente incoerência.

Flagrei a origem do nosso medo de sermos atacados por tubarões ferozes e percebi que ele vem de nossa própria mente. A mente criada no mundo das corporações, pois são hoje os profissionais que se orgulhar das batalhas chamadas negociações, que são os tubarões do nosso imaginário. São as corporações que atacam aqueles que não as ameaçam, mas pelo contrário, são apenas parte da contrução do seu dia-a-dia. O tubarão não ataca as rêmuras. Elas são pequenos peixes que vivem com eles e até entre seus dentes e são importantes para sua saúde. Estes pequenos peixes limpam sua pele e os deixam mais saudáveis e, obviamente, o tubarão não as ataca e eleas podem até gozar da relativa segurança de viver ao lado de um tubarão.

A atual sede de negociação das corporações com seus fornecedores, conduzidas por, na minha opinião, pouco competentes e superfíciais áreas criadas para isso, nada mais é do que tubarões que passaram a comer as rêmuras. Tubarões que perderam a sabedoria natural da vida. No momento, felicitam-se por sua abundante alimentação, mas em breve perceberão quão pobre e auto-destrutiva é sua postura.

Alguns clientes meus se ofenderão com a dureza do que escrevo aqui? Talvez. Mas a vida à frente de meus olhos na sua mais alta vibração me acordou para o ridículo do caminho que está sendo seguido. Não serei um rêmura limpando a pele de um tubarão que se propõe a tentar me devorar. As empresas hoje seguem posturas péssimas de relacionamento com seus pequenos fornecedores e este equilíbrio não tem nada de sustentável. Ele não se sustentará.

As grandes empresas, em sua maioria, perderam a sabedoria natural da vida e aprenderam a sobreviver às custas do desrespeito à vida. Enquanto controem discursos de sustentabilidade, criam relacionamentos destrtutivos. Eu quero respeitar a vida e, como pede a natureza, principalmente a minha.

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