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Publicado: Sexta-feira, 30 de setembro de 2005

Casados, eternos namorados!

É um erro fatal imaginarmos que o esforço pela conquista ou mesmo pelas reconquistas só é necessário na fase de namoro. O casamento funciona como acréscimo e não como substituição. A união conjugal incorpora "tudo" de antes, sedimenta, amplia e enriquece o relacionamento construído e, ainda que bem construído, sempre necessitará de manutenção e reparos. Por isso o romantismo que nutriu a fase de namoro continua como algo vital no casamento.

Como já afirmamos em outras oportunidades, homem e mulher não foram criados para viver isolados; muito menos se casam para se contentar com uma convivência de "amigos". Lemos em Eclesiastes (4,9-10): "Mais vale estar a dois do que estar sozinho, porque terão proveito do seu trabalho. Porque se caem, um levanta o outro; mas o que será de alguém que cai sem ter um companheiro para levantá-lo?"; o que poderíamos completar com a conclusão de que o casamento só vale a pena quando se torna vidas envolvidas. Não podemos esquecer que esse envolvimento tem um preço: nosso compromisso com o outro.

Casais que namoram acabam tendo seu amor conjugal muito fortalecido. Pesquisas revelam que muitas separações acontecem por insatisfações românticas. Quando indagados, vários desses casais, garantem que há amor entre eles, autorizando-nos a pensar que este tornou-se frio ou mesmo em desuso e, portanto, inerte. Sabemos que o Amor é algo vivo e que necessita de cuidados para não perecer.

As uniões onde desaparece o clima de namoro acabam-se transformando em compromissos com as obrigações e não com as emoções. Na falta destas, o casamento torna-se uma convivência apenas amigável e por vezes meramente tolerante... Infelizmente essa situação não é incomum podendo-se facilmente notar a falta de romantismo na maioria das vidas matrimoniais. E pensar que "antes" fazia-se de tudo para manter a conquista, mas agora... parece que pouco importa, numa situação que pode ser muito bem comparada à imaturidade do comportamento de uma criança diante de um brinquedo novo que o seduz por pouco tempo... logo perde seu "sabor" e é desprezado.

O segredo pode estar nos pequenos gestos e atitudes - possíveis sempre - : um beijinho ao sair de casa ou na volta ao lar; receber o outro que chega com alegria, evitando torturá-lo, já na porta, com todas as notícias (quase sempre as más) ou preocupaçães. Adicionem-se a isso: lembrar e festejar o dia do aniversário da esposa, do esposo e, com maior seriedade, o aniversário do casamento. Os mais românticos, os mais sensíveis querem ser lembrados nesses dias especiais se não com presentes, pelo menos com palavras de carinho. Aqui são sempre desastrosos os esquecimentos...

Lembramos ainda as saídas para jantar fora, para ir a um cinema, passear no shopping e outras tantas coisas nada excepcionais e impossíveis; comuns na fase de namoro, não deveriam tornar-se raras ou mesmo desaparecer depois de casados. Fazem muita falta agora, como fariam antes.

Reparar no outro: uma roupa nova, um novo penteado...manter o clima de interesse e valorização.

Tudo isso e muito mais acontecia na vida de namorados. Por que não continuar? Se foi fundamental naquela fase certamente também o é na vida conjugal.

Não menos importante é interessar-se pela casa - limpeza, arrumação ou enfeites-; valorizar o carinho com que a esposa cuida das refeições...

Surpreender o outro com algum programa extra e interessante.

Flores são sempre bem recebidas; sempre terão seu encanto e seus efeitos mágicos ...Experimente!

Procurar recordar momentos felizes vividos pelo casal, não importa o tempo ou a idade.

Não podemos deixar de recomendar um "puxão-de-orelha" especial para nós homens. Em geral, lidamos muito mal com as coisas do coração, com os afetos e sentimentos; perdemos longe para as mulheres que cuidam melhor das emoções. O fato é que a sociedade machista condena nossa sensibilidade, nosso romantismo.

É preciso, sim, cuidar de nossos sentimentos e de nossa afetividade, muitas vezes abandonados...Roberto Carlos, em uma de suas músicas, diz: "Eu sou aquele amante à moda antiga, do tipo que ainda manda flores...". O romantismo é parte do amor verdadeiro e este nunca cai de moda, apesar dos maus tratos que vem recebendo. O romantismo é capaz de manter acesa a chama do amor, de colocar tempero nas relações sérias entre um homem e uma mulher, como é o caso da união conjugal. Aqui a responsabilidade se reparte igualmente e a mulher sabe quantas armas possui e que precisam ser colocadas em prática. Conhece bem os "molhos" e os "temperos" que podem dar cor e sabor ao seu casamento. Lembre sempre: "Sua esposa ainda é sua namorada", "seu marido ainda é seu namorado". Sejamos, portanto, eternamente casados, namorados e "visivelmente" apaixonados um pelo outro.

Vamos finalizar com um pequeno trecho do livro "O Pequeno Príncipe", escrito por Antoine de Saint-Exupéry. Trata-se de um diálogo envolvendo o principezinho e uma raposa:

- Vem brincar comigo, propôs o príncipe, estou tão triste...
- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. - Não me cativaram ainda. [...]
- Procuro amigos, disse. - Que quer dizer cativar?
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. - Significa criar laços...
- Criar laços?
- Exatamente, disse a raposa. Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens necessidade de mim. Eu não sou para ti senão uma raposa igual a cem mil raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás pra mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo... [...]
Mas a raposa voltou a sua idéia:
- Minha vida é monótona. [...] Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol.[...]
Por favor, cativa-me! disse ela.
- Bem quisera, disse o príncipe, mas eu não tenho tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.
- Nós só conhecemos as coisas que cativamos, disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de conhecer nada. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me! [...]

Tu te tornas eternamente responsável por aquele que cativas.

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