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Publicado: Terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Cantona e a voadora antifascista

Cantona e a voadora antifascista
Fonte: Mídia Ninja.

Não canso de falar sobre o quanto futebol e política caminham juntos desenhando a história da humanidade. Contemporaneamente, temos poucos futebolistas ativos politicamente, ou que tenham consciência sobre esse papel social. Os que estão resolvendo se manifestar o fazem de maneira equivocada ou com opiniões escrachadas, muito mais para assumir seu personagem no show business do que para representar qualquer posicionamento.

Ainda assim, tivemos grandes craques que foram referência no futebol e na política (não falo de Dinei ou Romário) e tivemos acontecimentos históricos que misturaram as duas coisas (não falo do presidente na entrega da taça ao campeão brasileiro). O acontecimento e a personalidade que quero tratar nesse texto é o ex-jogador (pintor, diretor, ator, etc) Eric Cantona e o “incidente” ocorrido em 1985 durante uma partida da Premier League, a primeira divisão da Inglaterra.

Na ocasião, após ser expulso, antes de deixar o gramado, o jogador deu um belíssimo chute em um torcedor que o xingava na arquibancada, seguido de alguns socos, até ser contido pelos seus companheiros. Em um primeiro momento, obviamente, essa atitude foi julgada como mais um dos destemperos do genioso jogador. Porém, a vítima do chute era Matthew Simmons, um hoolligan (tipo de torcedor organizado na Europa) filiado ao National Front e ao Partido Nacionalista Britânico, conhecido grupo considerado fascista. O torcedor dirigia à Cantona xingamentos xenófobos.

Numa recente entrevista para o jornal BBC, quando questionado sobre qual teria sido o melhor momento da sua carreira, Cantona declarou:

“Foi quando dei o chute kung fu em um hooligan, porque este tipo de gente não tem nada o que fazer em um jogo. Acredito que é um sonho para alguns dar um chute neste tipo de gente. Assim, eu fiz por eles, para que ficassem felizes. E eles falam até hoje sobre isso. Eu já vi muitos jogadores marcando gols e todos eles sabem a sensação. Mas esta, de pular e chutar um fascista não é algo que você encontra todos os dias.”

Bom, primeiramente quero agradecer ao Cantona. Obrigado por ter feito isso por mim.

Mas, levantando a questão que muitos devem estar se fazendo: é correto ser intolerante com intolerantes?

A resposta, segundo o filósofo Karl Popper é: sim.

O paradoxo da tolerância, publicado pelo austríaco em 1945, diz: “Tolerância ilimitada leva ao desaparecimento da tolerância. Se estendermos ilimitada tolerância mesmo aos intolerantes, se não estivermos preparados para defender a sociedade tolerante do assalto da intolerância, então, os tolerantes serão destruídos e a tolerância, com eles.  — Nessa formulação, não insinuo, por exemplo, que devamos sempre suprimir a expressão de filosofias intolerantes; desde que possamos combatê-las com argumentos racionais e mantê-las em cheque frente à opinião pública, suprimi-las seria, certamente, imprudente. Mas devemos nos reservar o direito de suprimi-las, se necessário, mesmo que pela força”.

Certamente, o autor não diz para sairmos descendo a lenha em fachos por aí. Como qualquer sociedade civilizada, se é que ainda somos uma, devemos como bons cidadãos tentar expor racionalmente argumentos que refutem os intolerantes, a fim de demonstrar o quanto estão errados frente à opinião pública.

Porém, sendo mais enérgico e colocando uma opinião mais pessoal e dentro do nosso tempo e ambiente, a verdade é que: ciranda não acaba com intolerantes. Sarau não acaba com fascistas. Poesia não acaba com o nazismo.

Portanto, não julgue um amigo de luta se ele, por acaso, se destemperou e veio a agredir um discípulo de Mussolini, porque se um fascista agredir um companheiro de luta seu, os outros fascistas irão aplaudir.

 

 

 

Fontes de Pesquisa utilizadas no texto:

https://medium.com/liberdade-de-express%C3%A3o/sobre-o-paradoxo-da-toler%C3%A2ncia-795a0636ed3c

http://midianinja.org/news/a-voadora-de-eric-cantona-em-um-fascista/

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